quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

2/12 - Como é misterioso o país da saudade .

Lembro do Tiago no aeroporto, fui busca-lo às 8 hrs da manhã, o tempo dentro daquela enorme plataforma de espera, vontade, sonhos, desejos, fugas era uma eternidade, mas esperaria o tempo que fosse preciso e ele era, exatamente 3 anos que eu o conhecia, sabia dele, tinha ouvido falar, mas ver mesmo, ia ser a primeira. Preparei uma porção de discursos mentais, ensaiei emoções, prontifiquei abraços e planejava segurar o choro, sabendo que não conseguiria de qualquer maneira, mas fingir era a maneira mais sincera de distrair, não consegui por muito tempo, meus olhos procuraram o acaso no ponteiro do relógio, era cedo ainda. De repente o brinquedo que eu ficava admirando através de uma vitrine ia ser meu, já era meu antes, sem toca-lo, sabia da sua honestidade com a necessidade que eu criava todos os dias ao passar, agora seria palpavel. Conseguiria descreve-lo fisicamente, meu amor não teria só nome, sobrenome nem carater, mas teria um rosto. Era lindo, muito branco, muito alto, muito engraçado, embora isso só perceberia depois, era um pouco desengonçado e chorava, chorava mais do que eu. Depois de choros, abraços, encontro, deitamos diante da Lagoa, no píer, a gente ria muito das coisas, das pessoas, do tempo, talvez os de fora se perguntassem de onde viria tanta alegria ou tanto desespero, mas ignoramos e ríamos. Discutiamos coisas sem a menor importância e compartilhavamos o mesmo pavor por caldo de cana. Ríamos do nosso sotaque. Ríamos da vida numa espécie de vingança por ter feito a crueldade geográfica de nos mantermos assim tão (perto) um do outro. Depois paramos, soluçamos por alguns minutos e nos olhamos como quem soubesse que a vida não deixa barato, ela iria rir de volta e não seria por simpatia. A gente tem todo o tempo do mundo, somos tão jovens, mas naquele dia, tinhamos tão pouco tempo e te perguntei quando é que aconteceríamos por inteiro e você respondeu que a eternidade não era questão de tempo, que haviamos sido condenados a eternidade naquele abraço, ele tinha matado a gente de saudade e nasciamos dessa mesma saudade, era por tanto questão de reencontro. Eu sorri, na certeza de que nosso encontro estava no "eu te amo", então, não demoraria tanto. E eu te amei muito naquele dia, talvez não tenha dito, não houve necessidade de afirmar o óbvio. Pôr do sol no arpoador, sorvete na praça, livros e mais livros misturado ao café em nossas mesas, troca, conforto, certeza, como estavamos lindos juntos, como eramos uma coisa só, eu você e o mundo. Deixamos de acontecer como todas as outras coisas, mas não demos o braço a torcer, continuamos bonitos, chorosos demais, saudosos demais, doídos demais, mas ainda assim, lindos. Eu era um espantalho, precisei de um cerebro pra guardar memórias, eu era uma menina que poderia ver além do arco íris que havia compreendido que não há lugar melhor do que nosso lar e encontrei meu lar, eu era leão cheio de coragem, mas com o breve reconhecimento de uma covardia de te perder e por fim, eu fui um homem de lata, soube da existência do meu coração porque ele estava se partindo.
E você foi embora quase que na mesma hora em que eu acordei, foi um sonho lindo, estava o mesmo calor que no dia em que te encontrei, sorri sabendo que reclamaria se estivesse ali, era dia 2 de dezembro, conferi ainda no calendário, não era meu aniversário e de longe o meu mês favorito, mas eu havia te encontrado, eu havia descoberto o preço da felicidade, eu havia sido cativada e havia aprendido a ver bem com o coração (só existe essa maneira, agora eu sei). Dia 2 de dezembro, no Rio de Janeiro, São Paulo, Paris, Londres, onde a gente tiver que acontecer, acontece, e enquanto isso, preparo o meu ritual, é preciso preparar o coração, me diria a raposa. Já não há campos de trigo, já não preciso das estrelas, mas existe saudade e mesmo querendo esquecer, ela bate a minha porta o tempo inteiro me lembrando que eu tenho um compromisso inadiavel com a vida. Parabéns, meu amor, feliz aniversário (de morte pra você e de vida pra mim... brincadeira).
P.s: Da próxima vez, não venha de jaqueta de couro no verão do Rio de Janeiro, nem reclame tanto do sol, uma hora você se acostuma e talvez até ache que a luz que invade o teu rosto e queima é um beijo meu, invasivo mesmo, não te pediria licença, você sabe.

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