segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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Jogou o corpo da janela. Nunca havia pensado ser capaz de tanta covardia, mas foi. Ela, toda doce e frágil, agora fria e amargurada numa noite nem tão chuvosa, nem tão estrelada, nem tão nada, nada havia de glamouroso ou poético, pensou. Agora havia um corpo atirado debaixo daquela janela de um apartamento pequeno, mas espaçoso para uma só pessoa. Naquela manhã não haveria de acontecer nada de especial quando acordou, pensou consigo que seria mais um dia e que agüentaria tudo de cabeça falsamente erguida pela necessidade de consertar a coluna para um futuro olhar desatento além do seu, nem tão desatento assim, na verdade. Saiu do quarto e resolveu não tomar café, como de costume, repelindo para si qualquer rastro de comercial de margarina, em que toda felicidade (longínqua) se refletia naquela fatigada hora da manhã, em que o cabelo estava por arrumar, o banho por tomar, os dentes por escovar e a coragem de se olhar refletida num espelho maior do que suas próprias olheiras. Ela era nua descontente com seus vinte-e-poucos anos dentro de um corpo de estatura média, olhos castanhos, cabelo preto discretamente preso e pesando um pouco mais que 50kg, mas o fisico não lhe era de todo incomodo, incomodava mais a falta de vida a qual aquele corpo havia se acostumado, as costas um pouco curvadas, os pés inchados, as pernas com leves manchas arroxeadas, fruto de seu descuido ao andar por entre os móveis. Entrou no banho, um pé de cada vez, como se a água quente queimasse, mas não queimou, também não aliviou qualquer pressão de seu corpo, ao contrário, parecia cair ainda mais pesada que cada gota daquela água, até que caiu de vez. Se desmanchou em cima daquele ralo, suas lágrimas se confundindo entre todas as outras gotas e não sabia distinguir mais o que lavava o corpo e o que queria que lavasse a alma, mas chorou de uma vez, para logo em seguida respirar fundo e levantar num folego só tão rápido quanto caiu. Bambeou um pouco, porém conseguiu se manter em pé em pleno equiibrio. Sabia que depois dali, não choraria mais a manhã inteira. Procurou comer algo ainda que sem vontade, procurou ler o jornal sem conseguir se concentrar, os problemas do mundo não eram tão perigosos quanto o seu naquele momento, nem no seguinte, tomando um gole de café, ela se arrumou para sair, pensou que não via a luz do dia fazia tempos e de repente subiu-lhe um arrepio na espinha de que seria mais um ritual, que venderia mais que sua alma, mas o corpo também por mera tentativa. Ela era ousada, não haveria de demorar muito, só o suficiente, o tempo dela. Saiu porta afora com certo desaforo, tanto desaforo que desceu as escadas do quarto andar até o terreo para não ter que olhar nem manter qualquer dialogo inconveniente com qualquer vizinho, passou pelo portão de entrada e optou pelo caminho da esquerda, percebeu que sua rua havia mais arvores que pessoas e sentiu que podia respirar um ar mais leve, talvez até sentar embaixo de uma daquelas arvores, no meio da rua mesmo só pra se sentir mais terra, mais chão, como se fosse possivel, mas percebeu que não tinha um livro na mão, nem nada que justificasse ficar muito tempo ali sentada sem ter que pensar em nada, pensando em algo, ela só haveria de se tornar raiz e não levantar dali nunca mais, um chão quente, mais confortavel e mais natural do que o do seu banheiro que já havia sido um sacrificio. Não, não precisava cair. Encontrou um cão na rua, deixou passar, passou por crianças e quis se fazer de invisivel, não foi preciso, passaram direto, sentou num banco vazio de uma praça bem na esquina e pensou que seria muito simples ser criança de novo, mas não suportou a ideia de ter que crescer e sentiu pena de todas elas, mais do que de si mesma. E sorriu. Sua memória era até boa, mas não se lembrava de sua infância, nem se tinha sido boa ou ruim, por intuição acreditou ter sido cercada de muita gente, sua educação era boa, sua cultura também, porém não sabia de nada, não sabia andar de bicicleta, não sabia nadar, não sabia essas coisas tantas que se aprende na infância e voltou a fechar a cara, pensando que rastrear a si mesma não era uma boa ideia. Logo recomeçou a andar. Não querendo se distanciar mais de casa, por medo de não ter forças, mentira, se se afastasse demais era bem capaz de fazer questão de esquecer o caminho de casa, ou pior, de ir atrás dele. A tentação era grande, mas não sucumbiu. Voltou à casa pelo mesmo caminho de antes, fechou a porta com certa força, pensou em ler alguma coisa, mas não conseguiria sozinha, teve a péssima ideia de ligar pra alguém, já não havia ninguém para ligar, ninguém de dissesse algo diferente de que vai passar, vai ficar tudo bem, cansada das mentiras todas, resolveu ligar o rádio. A primeira música estava prestes a terminar, reconheceu ser Chico buarque em "Futuros Amantes", esperou pela próxima depois de tantos intervalos comerciais que não dizem nada interessante, não queria brindes, nem sair para dançar, qualquer promoção ou propaganda dessas era inútl naquele momento, foi quando na próxima música ouve uma certa curiosidade e aumentou o volume, um tanto barulho que seria capaz de chegar na casa do vizinho, pensou que não haveria ninguém em casa àquela hora, então, reconheceu no fato o que havia desconfiado desde o íncio: era a voz dele. Depois de tanto tempo, ela reconhecia aquela voz, reconhecia aquela musica tocada tantas vezes num violão desafinado em sua própria casa, era longa, não haveria de acabar por agora, ela ouvira não mais que três vezes sempre incompleta, sempre por terminar e se sentiu traida por ele ter compartilhado em rede nacional o que era segredo deles, não o perdoaria por isso, logo depois sentiu raiva, raiva dele não saber o que era dor de verdade, de cantar mentiras, de ter partido sem dar um motivo decente, depois ela teve medo de que a reconhecesse em qualquer parte desconhecida daquela música e voltou a sentir raiva por ele estar vendendo tão barato a sua dor sem lhe dar sequer o direito de defesa, uma linha que pudesse justificar sua loucura, estava louca, louca de ódio, raiva, mágoa, vergonha e medo, havia sido exposta ao mundo como se tomasse banho em praça publica sem se sentir limpa, sem se sentir cuidada, merecia por direito senão parte daquele dinheiro, parte daquela dor. Ele haveria de saber disso. Mas a sua voz era tao bonita, não esquecia sua imagem, não esquecia dele, ela tentou, ela enganou, ela mentiu, coisas que não serviram pra nada, apenas algumas tentativas desesperadas de uns remedios a mais e uns cortes pelo corpo. Nada muito desesperador agora que havia passado. De repente, a musica parou, ficou suspensa num acorde só de um violão vazio assim como seu corpo naquela janela, uma falha, uma falha que custou a covardia dela, que lhe custou alguma coisa que ela havia trocado antes por sua própria vida, vendeu sua alma, sua rotina. Havia jogado o próprio corpo da janela, sem ao menos ouvir o final, não faz mal, a música ficou em sua cabeça por terminar como sua própria vida, suspensa naquela estação de rádio, suspensa naquele fim de tarde, suspensa naquela janela, no minuto seguinte terminaria:

"Da dor fiz meu pranto,
já não me encontro em estado de amor,
já não me encontro, se bem lhe digo,
me perdi na curvatura do seu corpo
e é lá que você me espera voltar
enquanto em mim fica aquela interrogação
que mato sem vontade alguma com tantas outras,
mas certeza mesmo, só você
certeza mesmo só você
que não volta porque não se foi..."


Ela tinha ido.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

- Eu queria escrever algo bonito aqui .
- Escreve que me ama ?!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Acredito que tenha perdido a memória . Não voltou .

Posso perder a memória enquanto durmo?

Acho que eu ia acordar tão levinho :)

Se acontecer isso, quero que vc saiba que eu te amo, carol, eu sempre te amei, e me arrependo muito por ter ficado distante de ti daquela vez, por não estar por perto quando vc precisou.

Quero que vc saiba que eu sonho com o dia em que vou te abraçar, e que por mais de uma vez foi você quem salvou minha vida.

Quero que saiba que se eu perder a memória hoje a noite, fale comigo amanhã e eu tenho certeza que te amarei outra vez. porque o sentimento tá guardado em outro lugar, longe dessa cabeça doente.

Quero que saiba que sou grato a vc por tudo, e que nesse instante eu não consigo parar de chorar.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Queria muito ouvir tua voz. Queria que viesse até mim da forma que fosse. Mas não permito mais.
Senti uma necessidade grande de me afastar de você, foi dificil, foi trabalhoso e muitas das vezes, inconveniente. Ainda é - não adianta tratar como passado o que ainda marca a ferro. Mas chega. Estou envolta numa vibração muito boa que sou eu mesmo agora. E acredito não ter volta. Ah! Quero ficar nessa suspensão das coisas por enquanto. Não me entenda mal, mas se eu pisar num falso qualquer, acabo me confundindo em você e não posso.