quarta-feira, 31 de março de 2010

E eu que abri mão do mundo...

Estou perdidamente e profundamente destruída. Acordei de um sonho ruim para cair justamente em um outro e foi a cena mais real e terrível que poderia existir, passei o dia inteiro com medo, sem contar pra ninguém o que me tinha acontecido um pouco antes de acordar. Bem verdade que não consegui mais descansar direito e tenho fugido por horas da minha cama, ela não está tão confortavel como antes, nem o escuro, tenho tido muito medo, de verdade. Daí percebo que não está mais lá o que me segurava de qualquer loucura e sanidade, fiquei procurando o rosto que me tinha aparecido e todos a minha volta me eram ameaças. Ainda tenho medo. Vontade de chorar também, juro que foi assim um tanto terrível. Mas as mãos que me alcançaram em outros tempos não me são mais suficientes, não existem, e o temor aumenta. Sua energia foi embora, qualquer lembrança sua também, saudade é o que ficou, mas também tanto faz... dizer que não vi se perder seria hipocrisia, eu vi sim e me doeu mais não poder ter feito nada, ainda me dói. Queria desabafar tanta coisa, talvez nada importante pra você, mas crucial ao que restou de mim agora, poder contar segredos presos, segredos que me sufocam todos os dias, sem esquecer que fazes parte desse segredo, acho que fica notório aqui que o meu segredo é dor, sobre você e e tenho vontade sim, mas não necessidade de dividi-lo com ninguém, até porque acredito que não entenderiam/interessariam. Vontade de dizer que essas férias passadas eu sobrevivi ao meu coração que foi ferido inúmeras vezes pela mesma pessoa, ainda não está inteiro e temo que jamais estará, porém, não preciso me desdobrar nem em sacrificios nem em pedaços para que esteja visivel o quão harmonioso e bonito é. Mas não se iluda, nada foi assim tão fácil, foi necessário se concentrar em fatos absolutamentes desinteressantes para no final, só restar a essência. Me perdi por muitas noites, muitos choros, muitos sonhos e isso você não viu, também não importa, não está mais aqui, decidimos isso, ambos os lados. Acredito que esteja toda assim, aliás, em essência. Acredito que agora você esteja com uma mistura de pena e esperança sobre mim, claro, cansou de conhecer essa essência em outros tempos, mas não se preocupe, ainda que eu esteja toda fechada e indiferente, algumas coisas mudaram desde aquela época. Mas você não sabe, doeria me contar também. Desculpa tanta coisa jogada assim, acontece que está me doendo muito esses segredos meus que não posso contar a mais ninguém, sentimentos que os outros tendem a chamar de mistério, acho que é pelo fato de não poder chegar e dizer 'olha, eu estou querendo ficar aqui pra sempre, deitada, presa, com medo, não sei sair disso, a vontade de chorar me ronda constantemente e eu preciso mesmo é que cuidem de mim, diga que vai ficar tudo no mínimo suportável pra que eu possa seguir em frente", acho que pareceria mais maluca do que humana, né? Chorar é tudo que eu queria agora e consigo, mas tenho que esperar as luzes se apagarem e dentro dessa casa é um entra e sai descontrolado e já é tarde para uma volta na esquina, o que encontraria na rua também? Talvez um desconhecido que queira conversar sobre o tempo e o feriado prestes a chegar, não obrigada, qualquer banalidade assim não tem me interessado. Vou sentir falta do interesse enorme sobre uma pequena informação sua, de verdade. Escrever isso numa espécie de constatação que está longe e não vai voltar está me doendo mais do que imaginaria e fiquei pensando nisso uma tarde inteira, desde aquele sonho terrível que tive de manhã e não tinha uma mão estendida para que eu pudesse me sentir segura, senti medo da vida real, medo no ônibus, medo do olhar das pessoas, medo de me encontrar na mesma situação que àquela e me senti desconfortável. Por aí deve estar dando tudo certo, bom, era essa expectativa desde a última vez em que nos falamos, você tinha começado os estudos, você adorava o que fazia no trabalho e seu relacionamento tinha deixado seus baixos pra trás, só viriam coisas boas. Espero sinceramente que ainda esteja assim. Me entende que nossos desejos absurdos terminaram, deixei de ver sentido no que tenho controle e sua vida está tão mais adiantada que a minha que seria quase um disperdicio te prender nisso. Sua existência foi o presente mais lindo, continua sendo, porque enquanto me doer muito essa cena, enquanto ainda for presente, você vai ser meu sem que saiba. Acho que cansei de te alugar tanto, tenho tentado de todas as formas achar um equilibrio e tem dias que eu consigo, aqui em casa, com as pessoas, mas depois sento e penso que não está certo, não é real, ainda que receba mais de um abraço por dia, seria quente, mas não seria o suficiente pra tapar um buraco enorme. Bem verdade, estou cada vez mais sozinha sentindo o que não posso dividir por medo da incompreensão do outro. Tudo bem també, me ocupei em diversas atividades que não acreditaria, estou tentando de tudo mesmo para sair dessa, só que esse relato não tem ajudado muito a provar isso, né? Ia pedir que cuidasse de mim essa noite, mas não seria possivel nem mesmo verdade. Tenho medo de dormir e sonhar, mais medo ainda de acordar e rever toda cena. Bom, aqui as luzes se apagaram, essa talvez seja a minha hora. Boa noite.


"(..) endureci um pouco, desacreditei muito das coisas,
sobretudo das pessoas e suas boas intenções." C.F

domingo, 28 de março de 2010

Diário I

"Tempo. O tempo que faz que estou aqui, escrevendo. Não importa, eu gosto. Até essa dor nas costas que está começando é gostosa, diferente da que me da quando sento para estudar. Mamãe há pouco bateu na porta, depois abriu e perguntou se eu estava bem. Achei engraçado. “Eu nunca estou bem” tive vontade de responder. Ou então: “O que é estar bem?” Preferi dizer que sim: "Sim, mamãe, estou bem." Ela se foi. Não consigo olhar de frente para ela."

C.F - limite branco

sábado, 27 de março de 2010

Feliz aniversário.

As onze e vinte da manhã foi a primeira vez em que chorei naquele dia, que julgava eu estar perdido para sempre como todos os anos, dia de aniversário. Depois de uma noite exaustiva de coisas realmente ruins que só quero esquecer, uma carta do Artur mudou minha concepção da data e mais do que isso, me fez morrer de amores e dores. Chorei sem disfarçar, sem mascara e sem pudores. Um tempo depois daquele mesmo dia, eu recebi outra carta do Tiago, essa me fez abrir um sorriso enorme, como se tivesse lavado minha alma somente para alegrias que viriam aos poucos. Claro, recebi visitas e destribui abraços, o de sempre, mas dessa vez seria diferente, só atenderia quem fizesse a diferença e foi o que eu fiz. Mais tarde naquela mesma noite, eu recebi uma visita do Glaucio, um abraço que não deve ter durado mais do que quinze minutos, mas teve a importância de uma vida, uma história que a gente viveu e que aprendemos contudo a seguir em frente, a sermos maior do que qualquer sentimento banal e até maior que nós mesmos. Me senti feliz, pela primeira vez no meu anivesário eu me senti realmente feliz. Ainda me faltavam algumas lembranças de pessoas importantes. Não tardaram. Prestes a sair com amizades antigas que não me deixariam na mão por nada, eu recebo a ligação mais importante do meu dia, era o Rafael que me desejou coisas infinitamente boas e me prometeu um presente que mandaria na terça, além da sua vinda pra cá, nada pôde me deixar mais bem.... quer dizer, exceto quando ele me ligou uma segunda vez só pra dizer que me ama e dizer pra eu ter juizo nas minhas decisões. Chegando à Lapa, bateu saudade de tantos velhos tempos com aquelas que seriam as únicas que eu queria ver naquela noite, assim como o sunshine, mas desse não preciso dizer nada, porque o apelido que dei a ele (e só eu o chamo assim), já explica muita coisa. Entretanto, existe um presente que foi maior que todos os outros, o da minha mãe, comentei com ela todos os comentários a cerca do que diziam sobre a minha imaginação e o quanto o meu pé não está num mundo totalmente real, falei sem expectativa alguma de compreensão, só porque não aguentava mais mesmo, ela me disse: 'minha filha, eu também sempre tive um mundo se sonhos e me criticavam, me julgavam por causa disso, mas construi a minha vida toda sobre isso e estou melhor que muita gente, tenho tudo que quero na minha vida, não deixa de ser assim não, dane-se os outros..." e não foi um colo, um abraço, nada disso, mas as palavras que fecharam um dia que tinha tudo pra dar errado. Meu coração não ficou quieto enquanto faltava uma ligação, fiquei um pouco chateada, decepcionada, mas não seria a primeira vez também....deixei passar.

sexta-feira, 26 de março de 2010

"Aprendi sobre a palavra saudade que se trata da dor sentida por quem "espera". é típicamente portuguesa, porque tem origem nas grandes viagens maritmas de Portugal.

Enquanto saudade é o sentimento de quem espera por outro alguém distante, o sentimento daquele que está distante e sente falta do lar é a nostalgia.

No nosso caso, acho que é uma coisa mais complexa, é um pouco de cada, e não há palavra nessa nossa língua que satisfaça o significado da falta que você me faz."

A.D

quinta-feira, 25 de março de 2010

" Você não precisa simular interesse algum pelas pessoas em volta, elas não exigem mais que um bom dia, boa tarde, boa noite, às vezes nem isso."

C.F

segunda-feira, 22 de março de 2010

Mais um dia.

E o seu beijo não sai da minha cabeça. Tudo. A maneira como seu lábio desencosta do meu e me olha por tanto tempo de uma maneira tão intensa que faz com que eu me sinta a pessoa mais bonita do mundo e como se não bastasse a bobeira que me invade, você ainda sorri como se entendesse o que ainda não me é passivel de identificação. E beija meu rosto ou aperta a minha bochecha num gesto qualquer de carinho, mas seus olhos ainda estão parados nos meus. E eu sorrio tentando reconstruir cada passo do que acaba de acontecer. Não me preocupo, sei que vai acontecer repetidas vezes e cada uma a seu modo, e acontece. Até que sussurra no meu ouvido que era esse o meu presente, de você pra mim. Repito em voz alta que é um ótimo presente, você não se importa em dizer o quanto gosta da situação e rimos. Rimos por qualquer bobagem que nos convém. E penso agora como seria absurdo desejar que ocorresse de novo, porque acontecemos por acaso, mero acaso, te vi pela segunda vez quando menos esperava e desejar mais que destino é absurdo. Entretanto, se nos encontrarmos de novo, já sei o que nos espera.

domingo, 21 de março de 2010

Todo o direito do mundo. E amor também.

Qual o direito que você tem de encher meus olhos de lágrimas, hein?
Você é muito abusada. A gente dá a mão, quer o braço todo!

^^

Eu fico feliz de estar nesse mesmo estágio. Com toda distância e com tudo mais, você ainda é a pessoa que eu tenho como mais próxima do meu ser. Eu sempre quero ouvir suas opiniões e suas escrotices... euiheoiheoiuheoiuh... você é bastante importante pra mim. E, acredito, que tirando curtos períodos de instabilidade meus, sempre foi. Eu fico mega feliz de ler o que você escreveu. Acho que era uma vontade antiga, bem antiga, mas que eu não esqueci. Eu literalmente amo você. E, ache você ou não, é a pessoa que eu MAIS converso (ou a única pessoa que eu converso), no sentido meu 'eu'. Eu só confio em você, não adianta.... quem nasce para ser diva, nunca se endireita.

=]

Se você soubesse quantas vezes eu chorei de ontem para hoje, saberia o significado de eu ler isso pela manha... foi um banho de cor no meu mundo.

by Glaw

sexta-feira, 19 de março de 2010

Olhe o Mundo de cima, Ana Carolina.‏

No mesmo dia de hoje, há um tempinho atrás, o Verão presenteou o Mundo com seu último e mais precioso raio de Luz. Antes de todas as folhas começarem a despencar no primeiro dia do outono, um último presente foi dado. Foi reservado pra um monte de gente, que viria a amá-la alguns anos depois.

O último presente do Verão, no dia 19 de março, é divino, e foi mandado diretamente pelo Ser mais poderoso de todo o Universo, seja Ele Deus, Divindade, ou do que quer que o chamem. fato é que Ele deu um Anjo a esse mundo. na forma de uma menina, linda, linda. Forte, a mais forte que eu já conheci, embora seja exacerbadamente esquecida, e por vezes tenhamos que lembrá-la dessa força.

Mas quado lembrada, ela vem toda reluzente, toda cheia de si, e repleta de força. Se há uns 4000 anos tivesse vindo no mesmo 19 de março, na Hélade, teria sido ela a pópria Athena, que veio ao mundo em todo o seu esplendor, toda armada e pronta pra Guerra, sábia e bela, uma mulher forte.

Mas ela veio no século XX. E nao havendo mais a religião pagã que a tornaria uma divindade, num mundo cheio de calor, gente, modernidade, ela veio na América. e o Anjo recebeu o nome de Ana Carolina Machado Diniz.

Forte, forte, forte, atenciosa, preocupada, e personificação do conforto. Queria ter tido teu colo quando mais precisei de um caminho, e eu só tinha a sua imagem, e a sua voz, eu queria mais. Mas tudo o que me deu, foi o suficiente para me tirar sei lá de onde, do fundo de algum lugar, bem fundo. Sei que a vi ruflar suas asas sobre mim, e o brilho que me ofuscou, me fez sorrir, e em meio às lágrimas, vc me levantou. Foi um dos maiores e mais preciosos presentes que eu já recebi. Queria eu poder ter feito a metade do que fez por mim, queria eu poder ir até aí. Queria ter como te fazer rir de tudo, e de todos até.

Já menosprezaram você, já te deixara pra baixo. Como pode um ser humano qualquer afligir dessa forma um Anjo? Pffff não dá!
e tem gente que tenta. Se vc criou um mundo no qual vive e não deseja sair? sim, e??? Esse negócio de criação de Mundos particulares, é extremamente vetado aos seres humanos e mortais, vc sabia? Talvez seja por isso, que tenham-na criticado. Mas ninguém... aliás, pouca gente sabe do seu caráter divino, aquele manifestado toda noite, minto...algumas noites, quando vc os abre, todos esses pares de asas. E atravessa os céus , só pra zelar meu sono. Mas quer saber? Que falem, que percam seu tempo, deixe que se cansem de dizer. Se não lhes foi dado o entendimento necessário para admirá-la, deixe-os todos achare que vc é humana e ria.

Quando falarem, falarem e falarem. Só pensa nisso, e ria deles, de cada um deles.
Onde já se viu alguém afrontar um Anjo, alguém do exército Celeste, alguém tão cheio de poder?

Ahh, uma idéia!

Crie um mundo pra eles tbm, seja boazinha, afinal é um Anjo. E deixe-os lá, vivendo sob os limites que eles mesmos escolheram para si. Agora para você... tens o mundo todo. Do Cristo à Torre Eiffel. Todos os Céus, e os Mares e até cada pedaço de terra que pode tomar para si.

Aniversário do meu Anjo.
Feliz Aniversário. Mas não é o cumprimento. É feliz mesmo, tá? ._.

por Ele.

Fazem... dane-se o tempo, faz muito muito tempo que teu sorriso me salvou.

Estranha paixão dilaceranete que parece encantar a maré de noite (será que Deus entende?), eu levarei isso ao seu lado. Tal imaginação parece ajudar os sentimentos deslizares, e eu levarei isso ao seu lado. Correção imediata bombeia tuas veias e gera um pacote de mentiras por amar de mais e achar que a verdade doeria muito,e até isso eu levarei ao seu lado. Saturação extra enrola e bronzeia a pele, levarei isso ao seu lado
Sabes que que sou um sujo, um libertino, e que toda vez que você desabafa sua melancolia, eu pareço perder o poder da fala, e mesmo eu vendo que você está deslizando lentamente de meu alcance, eu ainda assim caio, e assumo, mesmo que te assuste, sem você não sou nada.
Só adimito aqui dentro, em um lugar tão profundo que nem de olhos fechado eu alcanço, porém você chega com tamanha facilidade ao meu âmago, você mora lá, contigo não conheço medo, me explica isso?
Obrigado, e parabéns meu amor.


por Rios.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Espelho II

Acabei de ler um post publicado por um amigo chamado Tarso em que ele conta um pouco sobre si mesmo e algumas situações da sua vida que fizeram de alguma forma uma mudança na maneira como ele se enxerga e tem enxergado o mundo, isso me fez bem, porque existe tanta gente pra criticar o diferente, apontar dedos e de repente uma visão de si mesmo deixa cair por terra todas essas expeculações sobre a vida do outro, também feito de carne, ossos, veias, órgãos e sentimentos. E no fim da publicação, ele pergunta como o leitor se vê no próprio espelho. Bom, meu espelho também não é muito diferente, começo concordando com o post dele ao afirmar que ser magro e não conseguir engordar é tão ruim quanto estar gordo, ruim, porque criam lendas sobre sua alimentação, dão a impressão de que não se come o suficiente, te tratam como doente e isso é terrível, já que mesmo comendo de tudo, não é suficiente. Mas não é sobre isso que se trata. Além de magreza, o meu espelho é composto de segredos, de cicatrizes, marcas tanto de expressão quanto de vivências, tem dias em que estão mais evidentes num choro numa alegria, tem dias em que estão mais escondidas, como numa indiferença irreconhecivel. Claro, não entrando nos aspectos cronologicos, meu espelho hoje é mais meu amigo, lembro de quando eu fechava os olhos de manhã na hora de escovar os dentes e pentear meu cabelo, saia de casa sem me olhar, tempos horríveis esses, hoje o espelho até aumentou de tamanho, tomou a proporção do meu quarto e uma versão bem mais simpática no banheiro. A gente vai se soltando, se torna íntimo daquele objeto tão detalhista, canta e dança sem pudor nenhum e as vezes, até quase sem roupa, por que não? O meu espelho se tivesse opinião formada sobre essas tranformações pequenas durante o tempo, ele com certeza revelaria uma Carolina totalmente diferente, mais bonita, mais segura, mais pateta também, mas sempre mais, mesmo naqueles dias em que acorda querendo explodir o mundo. Meu espelho ajuda a ser coerente, a ver qualidades em potencial (não que não tenha defeitos, mas defeitos são qualidades em potencial), qualidades já existentes, linhas que expressam emoções, que a genética me ajudou muito, se a pouca maquiagem está borrada e até ser mais ridicula e feliz cantando sozinha, dançando feito louca, mas a verdade é que não seria possível sem antes os olhos de anjos terem sido o meu espelho, sem aquilo que eu guardo de mais precioso que me aquece a alma e óbvio, outros anjos que apareceram no caminho, não os que me dizem qualquer coisa sobre aparência, mas os que me fazem sentir de maneira intensa que o que dizem é verdade. Tudo bem, o espelho aqui é um objeto de valor tão ínfimo, o importante mesmo é a maneira como lidamos com o que somos... tá, talvez nem tão bem, mas também, melhor do que antes, porque qualquer modificações que façamos já nos mobiliza para um caminho necessário, escolhas benéficas por vaidade, auto-estima ou auto-conhecimento. Terminarei com a mesma pergunta que o Tarso:

"E eu deixo essa pergunta pra vocês... como se vêem em seus espelhos?"

terça-feira, 16 de março de 2010

Eu espero que você me acorde mais tarde pra dizer que tudo isso não passa de um sonho, que você me esperava mais do que nunca e que jamais haverá outra pessoa pra pôr em meu lugar, já que no meu travesseiro agora escorre entre suor e medo, lágrimas, não identificadas de tristezas ou alegrias. Corra, pois o tempo é o nosso único aliado prestes a ser apunhalado pelo destino. Corra, pois já não tenho mais em mim a fé que possuia antes, nem aliados o suficiente, capazes de orientar meu caminho. Venha enquanto tudo aqui dentro está complicado e a sua presença é uma constante que ainda me faz falta, enquanto eu não descubra que talvez essa parte incompleta de mim não seja você, não seja ninguém ou mesmo algo, mas apenas, eu mesma.
Porque te vi no asfalto durante uma estação que não era verão e no seu rosto batia uma luz que não era minha, mas que brilhava aqui dentro, vi um sorriso que não causei, mas era intenso e sem saber o dia exato e de que mês, era somente eu e você, e as outras pessoas que não tinham nada a perder.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Nothing ever hurt like you.

O que aconteceu ontem foi estranho.
Mais do que o temporal que deixou a gente preso no meio do caminho, os risos confusos das pessoas a nossa volta, a falta de luz no local, tudo isso ainda seria bastante comum em comparação ao que aconteceu ontem, durante a chuva, do lado de dentro. Corremos pela chuva como crianças que fazem uma descoberta de algo totalmente novo e não se contenta em só olhar, precisa tocar, sentir, tudo ao mesmo tempo. E corremos mais por conta dos raios e pelo fato de que detestamos ficar molhados. A parte de dentro era enorme, a música alta só tocava a moda, tanto antiga quanto nova, norte-americana, claro. Dançamos, com estranhos, velhos conhecidos e amizades novas. Dançamos como se o mundo não existisse, porque sei que ele não existe quando estou perto de quem tenho como amigo. A mesma intimidade de sempre acrescida do elemento saudade, porque não te via fazia tempos. Num reconhecimento prévio, sua boca veio pra perto da minha, eu não permiti mais que isso, sussurrei ao seu ouvido que era errado, proibido, você riu de mim, como se tivesse dito algo totalmente absurdo, que me fez rir também. Não me importei em ser o que sempre fui com todos que gosto, a intimidade, o conhecimento, necessidade de carinho foi o mesmo, sempre, não haveria de mudar. Só que você me puxou pra mais perto, me disse coisas que eu não esperava ouvir, segredos de liquidificador, meus olhos se fecharam, mais pelo reconhecimento de que não havia nada a ser dito do que pelo cansaço, com o seu rosto mais perto do meu, você fez sua última tentativa depois de passear pelo meu pescoço, sua boca encostou no canto da minha no momento exato em que eu virei o rosto, me tirei daquela situação, daquele eventual erro que botaria pra baixo coisas tão irrelevantes. Me despedi e fui embora antes que alguém mais saisse machucado, pela chuva com os pés molhados, a roupa enxarcada e a lembrança que não me deixaria dormir durante a noite.

sábado, 13 de março de 2010

“Eu te amei muito. Nunca disse, como você também não disse, mas acho que você soube. Pena que as grandes e as cucas confusas não saibam amar. Pena também que a gente se envergonhe de dizer, a gente não devia ter vergonha do que é bonito. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas. Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso. Essas coisas não pedem resposta nem ressonância alguma em você: eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você. Acho que é bom a gente saber que existe desse jeito em alguém, como você existe em mim.”
C.F

segunda-feira, 8 de março de 2010

Eu quero ver o mar.

O mar. A única lembrança que possuia ao caminha naquela areia um tanto fria era a de que tinha um medo enorme do mar, apesar de gostar tanto de passar horas olhando pra algo que não tinha certeza se tinha fim. O único obstáculo pra cena ficar mais harmonica era o terno e a gravata que trajava, da pasta já tinha se livrado fazia um tempo de caminhada, dos sapatos fechados também, a próxima vitima seria aquele nó apertado por cima da camisa de manga comprida, ventava muito e a praia estava quase vazia. Quase, porque avistou logo a sua frente uma moça muito bonita sentada com sua saia laranja de frente para o mar e ela o encarava de uma forma doce, como se fosse possível uma combinação perfeita da doçura dela com o salgado do mar e ela não se importava em ser atingida em cheio por aquela água que já não devia estar tão fria quanto a areia. Ainda assim, ele tentou penetrar naquela paz estabelecendo com ela um diálogo:
- Oi, desculpa perturbar, mas você parece tão concentrada no infinito bem a sua frente, onde o mar não tem fim.
- Tudo bem, não me incomoda tanto quanto as coisas que estão na minha mente, e sim, tudo isso é lindo, mas lá não é o fim do mar, mas o começo, o fim se dá aqui nos meus pés onde a água me toca e passa a ser eu o infinito de ideias, pensamentos, sentimentos e mais outra porção de coisas que acontece dentro da gente.
- É verdade. Mas qual seria o seu nome?
- Eu hoje não possuo nome.
- Como não? Deve ter um pai, uma mãe, irmãos talvez, todo mundo tem um nome, me diga o seu.
- Se tudo isso me fosse importante hoje, acho que não estaria aqui por agora, aliás, acredito que nem você.
Foi a primeira vez que ela tirou os olhos do mar e finalmente olhou pra ele de cima a baixo não como quem analisa uma situação estranha, mas como uma curiosidade, tão aberta e possível quanto o mar.

- Posso me sentar com você? Hoje também não quero ter nome, nem obrigações, nada que me faça querer matar ou morrer.
- Não só pode, como deveria ter sentado e arrancado de vez essa gravata que tanto incomoda, não só a você que a veste, mas a mim que não suporto limites. Aposto que deve ter saído do trabalho, recusou uma série de happy hours com pessoas que não são seus amigos pra ficar nessa espécie de solidão com a natureza, desde criança o mar deve ser pra você apenas lembrança e vejo que não se aguenta muito tempo longe das pessoas, pelo modo como me abordou e sentou do meu lado sem saber qualquer informação inútil sobre mim.
- Tem razão, não lido bem com o que paira sobre a minha cabeça, pensamentos me consomem, mas quanto ao Happy hour, nem durei tanto na empresa pra que surgisse qualquer convite, vim por conta própria, não por rejeição.
- Entendo. Vê a lua? Ela está minguante, hoje ela entra em Sagitário.
- E o que isso significa ao certo?
- Bom, pra você nada, mas pra mim significa mudanças em relação ao momento atual de minha vida, acabar com determinações inacabadas, pôr em ordem, arrumação, compreende?
- Acho que entendi, mas como sabe tanto sobre essas definições?
- Acredito que tenha nascido com isso, um pouco de curiosidade sobre o rumo das coisas também não mata ninguém. Aliás, você me pareceu um tanto desesperado quando mencionou matar ou morrer, por que?
- Tenho tido preocupações e problemas que não solucionam, ao contrário, so fazem abrir uma ferida maior em cima daquela não cicatrizada, não me deixam em paz, meu coração é um dos principais motivos pra esse papel do desespero. E dói tanto, tanto que necessito de medidas desesperadas como largar tudo e correr pra ver o mar.
- E por que não mergulha nele?
- Porque tenho medo.
Ela soltou um breve riso que o deixaria envergonhado:
- Medo? Então é isso, você procura o mar em desespero para que seus medos internos tomem proporções pequenas diante do pavor que criou pelo infinito. Logo vi que não mataria ninguém nem mesmo morreria por conta própria, o desconhecido te assusta porque não tens a mínima idéia do que fazer quando estiver submerso a ele. Você precisa de aviso prévio, tempo pra planejar... não é isso?
- É exatamente isso, começo a achar que é alguma espécie de vidente ou paranormal que tem a capacidade de ler minha mente.
- Nada disso, é só que você não é muito diferente de alguns outros que conheci e a eles eu disse o mesmo: "Se joga de cabeça, mesmo que tenha um ferimento, não vai ser nenhum traumatismo craniano que vai te deixar em coma por alguns anos", a vida não é dessa maneira, menino, a vida é feita do agora, o que você deixa pra trás é tão improvavel e impossível quanto o que estar por vir a sua frente. E fugir é assumir fracasso, negar é assimilar derrota, daí a gente não cresce, aproveita essa lua, esse resto de noite pra começar uma vida nova, nem que seja necessário pular sete ondinhas pra que seja verdade. Vem comigo, vamos juntos.

Foi então que entraram no mar da maneira que estavam, no começo ela segurou em sua mão, em seguida o mandou fechar os olhos e se imaginar criança, uma criança que foge de casa e vê o mar de uma maneira toda nova, como se fosse uma brincadeira, ela o soltou e ele nunca esteve tão feliz. Parecia mais leve ao voltar pra areia, se jogou sem se preocupar como voltaria, na lambança que ficara em suas roupas, nada disso importava, só o fato daquela moça sem nome ter deitado ao seu lado e segurado a sua mão.

- Agora você é um grão de areia como toda a extensão dessa praia, não existe mais eu e você, só esse chão de areia que nós somos, não larga da minha mão ainda, olha só aquelas estrelas nos olhando lá em cima, parecem tão longe quando deitamos, parece tão impossível encontrá-las, algumas talvez até estejam mortas.

Ele olhou para o lado e viu o rosto lindo da moça desconhecida olhar diretamente pro seu e completou:

- Talvez estrelas estejam tão perto dos anjos, talvez seja por isso que estamos sendo contemplados com tantas numa só noite. É isso, te chamo de anjo, porque está dentro das medidas improvaveis e infinitas da minha vida, não te esqueço nunca, não solto da tua mão enquanto ainda for possível toca-la.
- Assim como você será o meu seguro, ainda que não te veja mais, mesmo que isso esteja acontecendo por uma noite e me ache o ser mais estranho por estar deitada na areia com um sujeito que acabei de conhecer e solto palavras que não faria o menor sentido em qualquer outro tempo, porém, se tornam nosso elo no aqui, momento presente, tão raro quanto a percepção da noção de tempo que ganhamos sendo um do outro.
- Podemos nos encontrar ainda fora daqui.
- Sim, podemos, de maneira totalmente ao acaso, em outra condição, outra época ou essa mesma, não depende de nós, não quero que dependas. Entenda que não tenho seu passado, se ele fez você sentir dores, alegrias e muitas emoções outras não me interessa, também não tenho o teu futuro que é tão incerto quanto o meu, a única mudança capaz de obter de você é no presente, esse momento que desfruto contigo como se fosse parte de mim, no momento em que seus dedos entrelaçam nos meus, que meu corpo fica suspenso sobre o teu, que a minha mente não tem sequer um vestido da vida exterior enquanto eu tiver em você qualquer expectativa de continuar no agora.

Nesse momento, ele a puxou mais para perto e ela subiu em cima daquele corpo extendido até então do seu lado na areia. Olhando no fundo dos seus olhos, ela repetiu que era dele e nada mais importava, enquanto ele dizia que era loucura o que ambos diziam, ela pôs o dedo na sua boca para que não dissesse mais nada, só escutasse o barulho do mar e olhando nos fundos dos seus olhos procurando um rastro qualquer de profundidade, agora o encarava da mesma forma como ao mar quando ele a encontrou.
Não demorou muito para que ele a puxasse contra seu corpo e a beijasse, dizendo para ficar com ele, uma visita inesperada numa noite iluminada por determinada luz que ele não sabia se viam das estrelas e da lua ou de uma existência dentro daquela moça que acabara de beijar.

- Me desculpe
- Pelo que?
- Pelo beijo que acabei de te dar.
- Não há nada pelo que pedir desculpas hoje, meu corpo regido por Touro também tem vontades e desejos iguais ao seu e minha alma regida por Peixes também necessita de uma outra alma por inteiro.

As palavras cessaram e totalmente imersos no que eram, não se contentaram em ser sem o outro, a vontade lhes tirou a roupa e os sexos se encontraram na solidão daquela noite, um estava dentro do outro sem pudor, sem moral, sem antes e depois, era outro plano em que estavam. Quando ele não se fez mais presente e a unha dela deixara de estar em suas costas, perceberam que faltava pouco pra amanhecer. Não queriam ir embora. Porém, eles sabiam nitidamente que um dia não poderia durar mais do que o tempo proposto para uma noite, não teria o mesmo valor. Se levantaram e começaram a catar do chão tudo o que ele havia jogado pros ares, ela estava logo atrás dele, não diziam nada. Ela o agradeceu e mandou se cuidar. Ele, antes de se virar para ela, continuou a catar suas coisas no chão, a pasta, o terno, a gravata, os sapatos e falava ao mesmo tempo que deveriam se encontrar pra tomar um café, insistiu em dizer seu nome, anotar num papel qualquer o telefone, até que ele olhou pra trás, ela não o seguia mais, na verdade, tinha sumido de vista e achou tão estranho, porque não era pra ela estar tão longe de seus olhos caso tivesse andado. Procurou-a por toda extensão e não conseguiu encontrar, foi pra casa, resolveu fazer um café e se jogar na cama durante o dia, continuar com aquele cheiro, aquela areia e as lembranças, ficou imaginando olhando para o ventilador rodando no teto se não teria sido um sonho, uma miragem, uma invenção de sua cabeça pra disfarçar um traço de solidão e desespero, quando tirou a camisa e se olhou no espelho, as marcas ainda estavam lá e ao tirar a calça, deixou cair um bilhete, pensou ser uma bobagem do escritório até ler que "A beleza de uma vida está no momento em que passamos a existir sob outro olhar. Quem não tem mais nada a perder, só tem a ganhar". E se sentiu feliz com o que via.

domingo, 7 de março de 2010

Uma só vez e doeria sempre.

Eram onze e trinta da manhã. Não tinha certeza da hora, não tinha certeza se era cedo ou tarde demais pra levantar, ainda assim, Bia decidiu botar os dois pés pra fora da cama, respirar fundo, esticar os braços e sair da cama num pulo súbito, ainda com os olhos fechados, na esperança de que ao abrir estivesse diferente, sabia que não estaria. Sua coragem para enfrentear o mundo foi se deteriorando ao chegar no banheiro, escovar os dentes, lavar o rosto, se olhar no espelho e se dirigir ao café da manhã, a cada minuto se arrependia ter saído da cama, mas não tinha outra maneira a não ser viver. E tinha que começar logo, por algum lugar. Arrumou a casa até que perdesse qualquer noção de hora, abriu sua gaveta e se propôs a separar as roupas em cores e jogar fora velhas cartas de amor que não significavam mais nada além de solidão. Não tinha expectativas de sair de casa, não sabia mais conviver com as pessoas, demonstrar interesses, ter conversas que ninguém mais entendia e figir rir com tolices. E tinha a certeza de que ninguém a tiraria de casa, como nas outras vezes, durante a semana, pensou que se morresse, ningupém ficaria sabendo a não ser pelo mal cheiro ou algum possível vizinho com sua velha mania de tomar conta da vida alheia ou até mesmo o sindico cobrando aluguel, mas tinha a impressão de que seria de repente e em alguns desses acontecimentos extraordinários, até que sua mente parou de seguir essa lógica, algum barulho longe do quarto onde estava chamou sua atenção, por um minuto chegou a achar que era coisa da sua cabeça já confusa, cansada e desesperada. Só que o barulho era real, saiu apressada pelo corredor até chegar a sala e deixou o telefone tocar mais um pouco, só para não parecer tão desesperador assim atender logo. Do outro lado da linha, um homem com uma voz encantadora que não ouvia fazia tempo, tanto tempo que a saudade não tardou em reconhecer:

-Alô?
-Alô!... Pedro?
-Sim, sou eu.
-Quanto tempo, não sabia que ainda tinha o meu número na sua agenda, você sumiu e eu procurei tanto notícias suas, lutei durante um bom tempo pra assimilar a sua partida, eu não sei quando... - foi interrompida pela voz do outro lado.
-Bia, não tem como a gente se encontrar hoje e esclarecer de uma vez por todas o porquê de tudo isso, tem tanta coisa que não ficou muito clara desde a última vez que...você sabe.
-Sim, eu sei. Disse com a voz quase sumindo. Se recompôs e afirmou que seria possível o encontro.
-Naquele mesmo café às 19 horas? Não sei se ainda lembra.
-Claro, claro que sim, estarei lá.

Sem conseguir dizer mais nada, Bia desligou o telefone e ainda conseguiu ouvir uma despedida e olhou o relógio, sabia que não tinha muito tempo pra se arrumar, ainda confusa, se dirigiu ao chuveiro e sem muita demora, botou a segunda roupa que olhou no armário, fez uma maquiagem simples pra disfarçar as olheiras de noites anteriores, de resto, seus quase vinte e dois anos permitia sair de casa sem qualquer intervenção estética. O caminho até a cafeteria não era longe, porém pensamentos sobre o passado ocorreram e tudo ao mesmo tempo, quase se esquecendo de respirar, recuperando o fôlego, repetia que aquele homem era o amor de sua vida e que finalmente teria respostas pra todas as suas perguntas e aflições durante o tempo em que Pedro fora embora.
Chegando ao local marcado, viu que ele ainda não havia chegado, o que fez com que seu coração quase não aguentasse numa mistura de saudade, desespero, tristeza, tantos sentimentos que a fizeram ter vontade de levantar e sair correndo, o que a impediu foi vê-lo andando em direção a sua mesa, reparou que sua beleza ainda continuava com determinadas mudanças, seus braços estavam mais definidos, seu cabelo muito bem cortado e a barba feita, o resto continuava o mesmo, pelo menos, fisicamente.

-Olá, Beatriz.
-Olá, Pedro. Sua vontade era abraça-lo e dizer tanta coisa que se conteve em ficar quieta o admirando.
-Posso me sentar?
-É claro.
-Você pediu alguma coisa pra beber?
-Não e não quero nada, nada desse lugar, quando é que ficamos tão cordiais um com o outro? Estou esperando você me dizer, me dar explicações das vezes em que me fez morrer todos os dias esperando uma ligação sua, qualquer notícia que me fizesse sorrir outra vez e o que pretende quando me contar tudo? Fingir que nada aconteceu ou chegarmos a um denominador comum independente do que tem pra me dizer?
-Bom, Beatriz, a verdade é que eu voltei pela necessidade de estar com você, saber de você, não aguento mais os dias dentro daquele apartamento tentando te tirar da minha cabeça e fingir que está tudo bem enquanto sabemos que não está. Sei que espera explicações da minha partida, não, eu não tive outros amores, não tive outros sorrisos, nada disso, mas eu não suportava mais a gente da maneira que estava, sempre brigando, sempre ofendendo e em determinado ponto, ficar longe de você ficou menos doloroso do que as ofensas e impressões que tinhamos um do outro, esperei você se desfazer da sua arma defensiva e desses preconceitos em relação a minha pessoa. E estar aqui é algum ponto que mostro em que me deixei levar por uma coisa tola chamada saudade.

Com lágrimas nos olhos e engolindo o choro, Bia parou um minuto e respondeu:

-Pedro, eu não sei em que tempo a gente se perdeu um do outro, vivemos momentos em que eu não vou me esquecer nunca, mas você tinha esquecido, você não se lembra do começo, nos nossos encontros sempre gurdava com você algum magoa que não expunha quando devia, quando se calava e ofendia por estar machucado, eu percebia isso e ficava calada muita das vezes, porém, existiam dias em que tantos adjetivos que me dava me machucava e eu passava noites chorando escondida, pra no dia seguinte estar nova, até você começar tudo de novo, eu não me aguentava. E você nunca esteve presente, eu me entregava pra você da maneira que sabia, de corpo, alma e sentimento inteiros, mas você recusava. Sua vida estava fechada pra qualquer pessoa e a minha, parada desde a última vez que te via.

Prestes a dizer alguma coisa, Pedro foi interrompido pelo garçom que com um bloco na mão anotaria seus pedidos, foi então que resolveu pedir um Cappuccino e uma água para Bia. Aproveitou para dar uma olhada no movimento ao seu redor, viu uma moça sozinha com um livro na mão e comentou com Bia quando viu aquele livro pela primeira vez:

-Lembra de quando eu li aquele livro?
-Lembro, fui eu que te emprestei, insisti tanto pra você ler que acabou tendo que ler só pra eu te deixar em paz, né?

O tom da conversa agora era mais descontraído, sem esquecer do motivo principal que os levaram àquele lugar. Bia substituiu a contenção das lágrimas por um sorriso bobo de lembrança de boas épocas que não voltariam.

-Eu li, você realmente insistiu muito, mas tinha razão, eu era mesmo muito teimoso em relação a novas opiniões e uma das melhores coisas naquela época foi ter lido esse livro, não me esqueço até hoje e comprei uma edição pra tê-lo em casa, não sei se te contei isso.
-Não me contou, mas fico feliz em saber que algumas marcas minhas ficaram em você. - Seu sorriso agora era de constrangimento por ter dito tamanha bobagem.
Num tom um pouco mais sério que antes, Pedro resolveu responder, mas ainda assim continuava simpático:
-Muitas marcas suas ficaram em mim, Beatriz, acredito que o nosso encontro foi sempre mais uma questão de tempo que oportunidade, você era minha, assim como me entreguei a você, sinto como quase uma certeza de que se não tivesse sido naquela época, teriamos nos encontrado de qualquer outra forma, seu sorriso iluminava uma parte em mim que eu mesmo desconhecia, entretanto, você parecia ter uma espécie de mapa em que estava muito exposto e claro tudo que eu era. Era assim que eu me sentia perto de você, exposto, mas não era algo ruim, entende? Até que o que éramos começou a desandar, deixamos de ser a necessidade um do o outro sem qualquer motivo aparente, talvez porque quisemos dar nome ao que já tínhamos um do outro e rotular qualquer coisa que não pode ter nome por não se contem em tempo e espaço dessa maneira é um erro, erro esse que custou a gente.

Beatriz quis chorar, porém não conseguiu mais do que olhar em outra direção que não os olhos dele, não queria deixar evidente vestígios de tristeza perante aquele homem que tinha sido seu, na qual, suas mãos se continham apertadas na beirada da mesa pra não sucumbir à vontade de tocá-lo. Tocar uma parte do corpo dele teria sido crucial na sua decisão. Enquanto Pedro parecia seguro de si, controlador de suas ações, sentimentos e outra emoção que poderia trair o momento de suas palavras. Então, Betriz continuou:

-Você tem razão em determinados pontos, só quero que saiba o quanto de amor eu tive por você, o quanto meu coração era só seu e faria tudo que tivesse me pedido, sem exitar, eu nunca esqueci aquele beijo, mas pra mim, não era a situação mais importante entre a gente, não era uma necessidade como a eu tinha de estar ao seu lado e confesso que abdiquei de todas as vontades involuntárias do meu corpo, quando a gente era só carne, pra continuar do seu lado, da maneira que quisesse. Você me quis tanto, eu te quis tanto, cada um a sua maneira, mas nos completavamos por essas ajustaveis diferenças. É disso que sinto falta. Tenho me encontrado num estágio de recomposição da vida, talvez porque durante muito tempo, eu tenha desaprendido a ser sozinha, acordar ao nada e não ter pra quem me entregar.

Nesse instante, o silêncio se fez tão presente quanto as pessoas que estavam entrando no ambiente pequeno que tinha certo charme, que em outros tempos, serviu de poesia para aqueles dois que tanto se amavam, amam e amariam. Foi quando olharam pela janela e perceberam que estava chovendo, sorriram de maneira independente, porém entenderam que naquele momento a cena pareceu um tanto noir para o que estavam vivenciando.
Beatriz tomou a palavra, decidiu pedir a conta e tentar encerrar um assunto que não teria fim não importava o caminho que fosse, ainda teriam magoas ou novas marcas, mas pertenceriam um do outro de qualquer maneira, seriam impulsionados um pelo outro, em situações adversas que fosse, não tinha mais jeito, seu encontro era inevitável, mas se perder não era opcional, estariam interligados por um tempo indefinido por não terem sido qualquer outra coisa ou por terem sido demais. Pedro se ofereceu a pagar a conta, Beatriz tão independente e orgulhosa de escolhas aheias, pagou a sua parte, teria pagado a dele também se ele não tivesse a impedido. Foi então que Pedro disse:

-Então, é isso?
-Eu não sei, quando você me ligou fez ressurgir em mim uma alegria que eu desconhecia faz tempos, o que há entre nós vai matar a gente por não ter definições claras quanto ao que queremos, mas é preciso seguir em frente, não posso ficar à mercê de ligações inesperadas ou encontros desesperados de saudade, daqui pra frente, seremos essa incognita porque foi dessa maneira que aprendemos a sobreviver, entre nós não existe certo e errado, acredito agora que a culpa nem tenha sido nossa, não soubemos nos moldar ao tempo real dos acontecimentos, nos aniquilamos quando deixamos o de fora fazer parte do de dentro e intervenções terceiras, não podemos voltar atrás. Ficamos jogados a esmo do que sentimentos, se a vontade minha for enorme de você, eu ligo, procuro, suplico, assim como acredito que seja com você e mais nada.

Antes que Pedro pudesse dizer mais alguma outra frase em relação ao passado, futuro ou presente daqueles dois, Bia se levantou da mesa e afirmou que iria para casa. Ele se ofereceu para leva-la e ela concordou, o que fez os dois abrirem um sorriso por perceberem que haviam aberto a guarda, nada de teimosia e orgulho naquele momento tão frágil. Ele a deixou na porta de casa e esperou que entrasse, não esperou nenhum convite por parte dela para entrar, sabia que não faria o menor sentido pelo que foi dito momentos atrás, ela entrou e ele foi andando de volta até o elevador, só não imaginava estar sendo observado no olho mágico da porta branca na qual Beatriz se apoiava com as pontas dos pés, sentia seu amor ir embora.
No momento exato em que ele apertou o botão que daria para a saída do prédio, Beatriz saiu correndo pelas escadas, passou por vizinhos detestaveis e nem os cumprimentou pelo tamanho da pressa, algum comentário ordinário a fez mandar todos eles se foderem, dessa maneira mesmo, com a boca cheia, chegou a tempo de alcançá-lo na portaria, gritou seu nome e no momento em que se virou, chegou perto do seu rosto e lhe deu um beijo como nas únicas três vezes em que estiveram tão íntimos desse jeito e sem exitar, disse:

-Fica, por favor.

Só que quando abriu os olhos, ainda estava de costas pra porta segurando um retrato antigo depois de saber que ele tinha ido embora e sem a certeza de que voltaria.

sábado, 6 de março de 2010

já que falamos em ler...

Percebi que de uns tempos pra cá, o meu telefone não toca como antes, cartas não chegam mais como antes, pessoas não passam aqui, porém não tenho achado de todo ruim, na verdade, parei para pensar sobre isso hoje e o quanto não ouço, sinto, vejo faz algum tempo esses detalhes. Tenho estado num estado tão do lado de dentro das coisas, quer dizer, do meu lado de dentro, onde não me espanta em nada que as pessoas tenham se perdido um pouco pela ausência que causei entre elas. Só que o negócio é que eu tenha errado muito, sido totalmente diferente, não me reconhecido, precisei parar e analisar de uma nova perspectiva, começar do zero, literalmente. Voltei a ser quem eu era, digamos que isso é bom pra mim, não pra muita gente, mas não há o que se fazer se é dessa maneira que me encontro. Outro fator muito importante é a leitura, como teve um papel fundamental na minha vida e eu passava horas admirando o fato de ter lido livros que aumentavam cada vez mais minha estante que daqui a algum tempo, gostaria que se tornasse uma biblioteca. Só que os livros continuavam os mesmos, a estante não aumentava, ao contrário, de tantos livros emprestados, acho que só diminuiu, porque ler havia me cansado muito e livros não combinavam com a vida que eu estava levando, com o que acontecia sem que eu percebesse. Tive que fazer escolhas, claro, todos temos e tem sido bom, estou me sentindo bem, parece mais uma reabilitação em que os livros, filmes e músicas são os meus remédios e o tempo, meu enfermeiro que não deixa eu perder a hora de cada um deles. Espero que não vire um manicomio, já que não existem outros pacientes, mas percebo que nãp tenho nada a perder com isso também.
E se estamos no meio do caminho, falaremos de livros. O livro que eu peguei pra ler num impulso nervoso de quem precisa dar um passo adiante no que propôs desde o ínicio foi "O dia do curinga", tinha tentado começar muitas outras vezes, entretanto, acredito que esse espaço de tempo era necessário. Então, o livro é impulsionado por um menino com seu pai que decidem cruzar a Europa em busca da mulher que os deixou há oito anos e por uma série de acontecimentos faz com que ele ganhe uma lupa e um livro que se encontra dentro de um bolinho que foi escrito com letras minusculas que contém histórias de maldição, cartas do baralho que ganham vida e mitos gregos. Mais do que uma sinopse, é uma descrição da perfeição que é o livro e a maneira como várias histórias de personagens diferentes se interligam e no fim, só resta essa sensação de que queremos e podemos ser curingas, a única carta que se diferencia do baralho inteiro. "Só o curinga do jogo não se deixa iludir."

quinta-feira, 4 de março de 2010

Que você tivesse vontade de me ver e descarregasse de mim tudo o que vivenciei esta noite, dizer que quase morri, que de repente dei um passo em falso da minha fantasia habitual e caí no real, como eu tive medo, tanto medo de que não desse certo o que planejei para mim, a dor causou batimentos mais fortes, arrepios pelo corpo, inquietação, pavor, solidão e mais outra porção de coisas que fez com que meu corpo nao se mantivesse na cama, levantei, fui até a janela procurar um consolo, mas já não havia estrelas, só chuva e vento, mas esses não levavam embora esse rastro de sujeira, não me deixava mais limpa. Precisei andar pela casa, beber copos d'água e voltar para cama com permanente sede, sede de vida, de você e algumas coisas outras, sem conseguir dormir, dando aquela vontade enorme de pegar o telefone, discar o teu número e te dizer "me escuta, não diga nada, deixa eu falar, estou querendo me matar nesse minuto, sei que está muito cedo pra ligar, não quero esperar até mais tarde, talvez essa agonia se transforme numa negatividade maior e eu não seja capaz de suportar, me salva, me ajuda, não, não quero que venha até aqui, sei o quão perigoso e inconveniente seria e está sendo isso, mas diga que vem um dia desses sem hora marcada sem aviso prévio, meu coração saberá o dia certo, mas venha, por favor. Eu te amo muito, talvez esteja soando a você de uma maneira um tanto dramática demais, só não me deixa dessa maneira, sei que você quer falar, eu sei, só estou tentando deixar mais claro fazendo com que entenda, essa urgência grita e toda vez que me interrompe, perco o sentido do qeu tento mostrar, é, é confuso mesmo, e concordo que seja tarde, tarde pra me alcançar..." Porém, me contive, porque ligar as três e meia da manhã preocupa, não é aconselhavel a não ser que exista morte de um parente próximo ou um acidente grave qualquer ou um nascimento, quem sabe, ainda assim, só é permitido atender alguém a esse horário quando é fato consumado, ninguém levanta da cama quando se está prestes.