quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Não sabia-se de outro jeito .

Acordou com o dia nublado, olhou no relógio e percebeu que eram nove horas da manhã, apesar do cansaço e de achar justo dormir mais quatro horas, já que havia sofrido de uma insonia terrivel que durou até as cinco da manhã, Luisa decidiu levantar. Levantou, constatou que sua cabeça continuava perdida nas informações do dia anterior, uma mentira e um convite completamente recusavel. Quis que aqueles pensamentos parassem, mas não teve jeito, parada em frente a geladeira, sabia que eles viriam e tomariam conta da sua mente tão cansada quanto o corpo, foi quando constatou: não havia leite. Decidiu não tomar café da manhã, não era tão importante assim, até porque não acharia qualquer outra coisa melhor que leite. Sentou no sofá de frente para a tevê LCD nova e decidiu assistir o que havia deixado gravando na noite anterior, um filme de Charlie Chaplin, "O Grande Ditador". A principio queria deixar-se levar, queria ficar muda dentro dela mesma como no filme, não conseguiu de primeira, mas depois sem toda a preparação e o esforço, ela havia se esquecido. Luisa adorava filmes em preto&branco, adorava tudo que havia de mais sensível em termos de gestos e escassas palavras, gostava ainda mais do musicais e filmes mudos. Era a única maneira de ser por completo, não havia outro. Detestava finais óbvios demais, ela queria pensar, sentir, ela queria ser tudo o que não podia. Ela conseguia. Término do filme e Luisa percebeu que o seu dia nem havia começado, ainda com a cara amassada (bem menos quando acordou, mas ainda assim amassada), um pijama e com o cabelo despenteado, ela não havia planejado o seu dia. Ainda achando justo ficar nessa vida suspensa, o gesto seguinte foi maior que ela mesma, se arrumou, penteou, se perfumou e recebeu uma ligação. Chegou ao metrô, trocou o dinheiro inteiro no guiché e se atrapalhando toda - um charme dela - deixou cair uma moeda ao chão, quando pisou em cima e arrastou-a até a si mesma, percebeu o esforço de um garoto com cerca de 20 anos ao tentar pega-la para lhe dar, ora, não havia porque ser tão resistente, tirou o pé da moeda e permitiu tal gesto, ele não pensou duas vezes, pegou a moeda de valor muito baixo e a entregou olhando no fundo dos seus olhos e a única coisa que veio a mente dela foi: "Obrigada", mas demorou a sair, coisa que fez ele sorrir ainda olhando pra ela. Luisa era ua menina bonita, não tinha nada de tão diferente em aparência, mas era elegante e tinha isso a seu favor. Sua vontade foi perguntar o nome dele, se dizer maluca logo de cara, porém, isso o faria perceber na própria fala, bolou dialogos estratégicos, percebeu que ele havia se interessado, estava na hora de conhecer pessoas novas, mas tudo que havia criado foi interrompido pelo vagão que havia chegado. Ele entrou e ainda tentou ve-la de maneira discreta do lado de dentro, ela não disfarçou, mas precisou ficar mais um pouco na plataforma. Foi até o centro da cidade, ao teatro Municipal, lugar lindíssimo, e constatou a importância de Portinari com sua exposição naquela fila quilométrica na Av. Rio Branco, mas nem isso deteve o seu dia, atravessou a rua e foi até a Biblioteca Nacional, também não se importaria em não ter mais vagas nos horários de visitação. Saiu dali e encontrando mais três amigas foram tomar o café a qual não havia dado tempo nos cafés coloniais do centro do Rio de Janeiro, conversou, riu, brincou, esqueceu de tantas coisas que lhe importunavam pela manhã, ela não havia percebido. O mero acaso era a sua felicidade, ela sabia onde encontrar o que tanto amava, era no acaso e não havia jeito, nas pequenas coisas ela foi se entregando durante o dia, sem perceber abria sorrisos quando via um moço parecido com aquele de outros tempos, se recolhia um pouco quando passava em frente ao Odeon, onde o esperou da penúltima vez que se viram por uma hora, ria com histórias passadas na sua cabeça e seus olhos brilhavam quando ouvia qualquer música. Ela não percebeu, mas aquilo era sua felicidade, ao extremo acaso, assim com ela. Mas ainda era cedo e não voltaria para casa. Pegou um outro ônibus e recebeu outra ligação, eram seus amigos que não via fazia tempo, sentiu saudade, só a reconheceu quando desligou. Foi ao encontro deles. Conheceu pessoas novas, riram, percebeu o quanto era amada e o quanto amava aquelas pessoas, caminhou aos poucos e só perdeu o acaso quando pronunciou também ao acaso o nome dele, depois disso, percebeu-se saudade. Ainda que se desse o direito de sofrer um pouco, sentir um pouco ou ficar mais calada, ela seguiu em frente, recuperou a sanidade. O ano novo estava chegando e seria necessário uma roupa nova, saiu de loja em loja comprando, comprou sorvete e tudo o mais que estava afim. Ela podia comer de tudo, não engordava nenhuma grama, não era genético, nem sorte, ela tinha auto-controle, desde cedo sabia distinguir a fome da vontade de comer e não se importava muito com a alimentação. O acaso regia mais que seu dia, mas a sua vida. Quando percebeu as horas, voltou para casa. Ninguém a havia pertubado, não havia planejado nada, seu corpo estava exausto demais, tudo que precisava era de banho e cama, ela tinha certeza de que essa noite dormiria bem, em paz, feliz consigo mesma, entretanto, havia um preço alto a se pagar: voltar para qualquer traço de normalidade (e tédio) no dia seguinte. E no espaço entre os dois gestos, nos espaços mudos de suas falas, ela pensou nele, não tinha mais forças para lutar contra, mesmo que quisesse, não queria. Se permitiu sentir cada pedaço do corpo dele, se permitiu aos arrepios, ao tesão, ela se entregou a ele como fez na outra noite: era seu corpo dormindo ao lado do seu, a cara inchada de manhã, a reclamação ao abrir a cortina, o simples 'bom dia' antes de voltar a dormir... tudo. Ainda o tudo não era suficiente. Talvez Luisa o amasse, mas não era o amor que ela via jogado no passar dos dias, mas a beleza, a graça, algo diferente que ele havia acrescentado a sua vida, o antídoto do tédio que era a monotonia de sua vida, ela não se esquecia de quem era com ele, ela só não achava outro jeito.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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Ando triste demais, é tudo que sei . Minhas cartas não tem mais destinatário, penso agora na covardia da noite, que nunca tiveram, elas sempre foram mandadas, mas nunca correspondidas. É, tenho pensado até que ando meio louca, fazendo coisas sem muito sentido, amando sem a menor vontade da outra pessoa e que meus amigos todos são imaginários. Mas a tristeza é um fato, isso eu sei. Não faz mal, continuo regando as plantas, andando rápido na rua, ouvindo música, esbarrando em desconhecidos, lendo livros... coisas normais, coisas que garantem a minha sanidade, por enquanto. Cada dia eu passo a entender menos a minha própria vida, como se não me entender não fosse o suficiente, não consigo entender nada a minha volta, nem as pessoas, nem o que estiver pelo caminho. Complicado isso, não? Eu vi o que eu sentia morrer na minha frente, eu vi sem lágrima alguma o muito que eu tinha se transformar em quase nada, eu vi, apenas vi e não pude fazer nada. Na verdade, confessando aqui no íntimo da folha, eu não quis, entende? É, eu não quis fazer nada mesmo. Assim, puramente isso, sem motivo algum. E dane-se. Tudo e o resto.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mil Pedaços

Eu não me perdi e mesmo assim você me abandonou.
Você quis partir e agora estou sozinho
Mas vou me acostumar com o silêncio em casa com um prato só na mesa.

Eu não me perdi o Sândalo perfuma o machado que o feriu
Adeus, adeus, adeus meu grande amor.

E tanto faz de tudo o que ficou guardo um retrato teu
E a saudade mais bonita.

Eu não me perdi e mesmo assim ninguém me perdoou.
Pobre coração - quando o teu estava comigo era tão bom.

Não sei por quê acontece assim e é sem querer
O que não era pra ser: Vou fugir dessa dor.
Meu amor, se quiseres voltar - volta não
Porque me quebraste em mil pedaços.

Legião Urbana

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mas vou me acostumar .

Era bem verdade que durante o dia eu não sentia falta dele. Como era verdade também que eu não ligava pra ele para deixa-lo adormecido, esquecido de mim e que não me ligasse de volta. Não sei o que pretendia. Acho que era despretensão de nada mesmo, ou talvez, só solidão. Mas também era verdade que se ele passava dias sem me ligar, eu ficava jogada na cama sem forças pra levantar, olhando a tela do celular me perguntando porque ele não gostava de mim o suficiente para discar somente oito números ou mandar uma mensagem qualquer que pudesse quem sabe revirar meus olhos. Ainda que fosse pra ignorar. Era verdade também que havia marcado de sair com outros, tantos outros, passados outros, fantasmas outros, possibilidades, aqueles a quem eu admirava por alguma característica ou outra. Eles não conseguiam ser inteiros. Daí chegava o dia marcado e eu me sentia culpada, me sentia traindo, me sentia desonesta, acredito que não era pra menos. Os encontros quase sempre davam errado, numa espécie de aviso, mas aqueles que conseguiram ir além do quase, se concretizaram em culpa. Olhava nos olhos dele com a cara mais deslavada que encontrava e mentia em cada beijo o que o silêncio me condenava. Passaram muitos os dias sem ve-lo, passou também a raiva, o medo, a insegurança, o desgosto, como numa caixa de pandora, sinto que ao fecha-la, deixei por lá a saudade, ou até mesmo (e por que não?) a esperança, como na história original. Nunca saíram. Fui me perdendo toda vez que o encontrava, fui me perdendo também quando ele não apareceia, deixei de ser eu mesma já fazia um tempo e não recordava a última vez, recordações também foram pensando demais pelo caminho, já não lembrava de mais nada, nada mesmo, lugar, nome, rua, cidade, nomes, nada, me tornei uma espécie de pessoa que procura referências pra se achar, uma estrangeira perdida dentro do meu próprio corpo, dentro das minhas mágoas, dentro da minha solidão e a mesquinharia que ela me trazia num esforço de ter sempre minha mente vazia e um copo cheio. Descobri: meu fígado era muito resistente, mas meu coração não.

Fui me deixando enlouquecer estando completamente lúcida, uma dor, uma sombriedade, uma tristeza, acredito que no fundo - quem sobreviveu até lá (quase ninguém) - eu não tenha passado disso, só tinha aprendido de uma maneira muito cretinar a rir da vida como ela nunca tinha rido pra mim, somente de mim. Meu caminho tinha muitas veredas, peguei justamente as erradas sem saber quais eram a certas e me cansei, melhor andar em linha reta, mas em linha reta não se pode muito longe, não é mesmo? Nunca tinha existido em alguém que não tivesse existido em mim, todos que a mim passaram deixaram sua marca de alguma forma, mas houve um tempo, um momento exato que eu deixei passar, ou fui passada por ele, em que além da minha memória, eu perdi a capacidade de carregar os outros, excesso de bagagem. E me arrastei sozinha, cansada mesmo. Reclamo pouco, bem menos que antes, não sei se é melhor assim, porém, é o caminho de agora. Não sou mais feitas de escolhas, sou maleavel, ando junto com o vento, com o tempo das coisas, perdi traços de racionalidade, perdi a humanidade excessiva, perdi a amizade de alguns, perdi o sorriso de outros, não encontrei outros, bem verdade que também não procurei, mas não me reconheço nessa falta de esforço. O que abriga em mim é mera coincidência. E me prendo a ele agora, não na esperança de não morrer sozinha, mas acho que na tentativa ocasional de sentir alguma coisa a qual não faço a menor ideia de como era. Ele é uma pessoa boa, totalmente diferente de mim, tem me feito rir um pouco, pelo menos, sair de casa, apesar de todas as desculpas, chega um dia que a gente não tem mais desculpas, né? E vai mesmo. Eu sei que em outros tempos, eu estaria encantada por ele, estaria eufórica pela maneira como ele me trata. Hoje não, eu só acho bom. Há cada cena de filme que identifico, mas deixo passar, deixo o filme se arrastar até a cena seguinte, Cazuza estava certissimo, o nosso amor - essa espécie muito porca de amor - a gente inventa pra se distrair e quando acabar, eu vou pensar que ele nunca existiu. Ainda que tudo mude.

Não sei se me abalei por muito pouco ou as pessoas foram mudando de uma forma um tanto cretina, as mascaram caíram, não é mais tempo de carnaval. Não sei o que houve, também não sei se quero saber mais. Não, eu sei, não quero. Deixo passar como a maioria das dores que ficam: se tornam cada vez mais dores que não soluciono. E deixo. Um dia elas param de doer, um dia também se cansam de serem dores. Como se fosse verdade. No máximo, elas cansaram de existir como eu, mas continuarão existindo. E não posso fazer nada. Não lembro em que página do livros eu parei, aliás, dos livros, deixei vários incompletos por ler, peguei um, abri outro, reli outro, tudo pela metade. Tenho vivido justamente assim, pela metade, sem levar coisa alguma ao fim. Vai chegar o verão, ainda como começo, eu detesto o verão, exceto pelas férias, mas não há nada de muito proveitoso no verão, ou faz um sol horroroso que agita minhas celular canceriginas ou só faz chuver, nada contra a chuva, ao contrário, mas ela não combina fora de época, porque não refresca. Talvez ela seja igual a mim, só esteja acontecendo no momento errado, né? Não sei. Sinto falta dos meus amigos, dos meus filmes, de alguns livros, mas esses estão ocupados, sumiram ou ficaram pela metade, não necessariamente nessa ordem. Ah, solidão é o começo do verão, das férias, já que ele trabalha nesse mesmo períodoo também, procurar outra distração quando não te resta quase nada é um trabalho terrivel, na qual não sei se terei tempo de executar, mas até o final tanta coisa acontece, muita gente morre, nasce, muitos dramas, muitas descobertas... Até o final a gente sobrevive como se fosse o fim. Mas não é. A vida sobrevive sem a gente, a gente é que não sai vivo dessa sem ela.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Como é misterioso o país das lágrimas .

Artur, por favor, aparece. Eu sei que você não é mero fruto da minha imaginação, eu suplico, imploro que voce apareça imediatamente, é uma ordem, fecho os olhos em desespero no meio das lágrimas e confirmo: você é real. Me apavoro com tamanha realidade e você não está. Mera projeção do que eu sinto e você também não é isso, porque eu deixei de sentir algo bom já faz tempo. Tento como último recurso a memória, tento me lembrar do que você diria caso estivesse aqui e não funciona, você não está mesmo. Talvez quando leia isso seja um pouco tarde, talvez eu tenha morrido em alguma coisa mais um pouco e você achará que estarei viva e será mero descaso. Não faz mal. Aliás, faz mal sim, estou tentando desistir de novo, é, eu ainda não acabei com aquela dramaticidade toda nem aquela palhaçada da desistência, mas dessa vez eu juro que não é pra te chamar atenção, antes fosse, você viria correndo e dessa vez você não vem. Não, não se sinta culpado nem fique preocupado, só está me dando uma vontade de gritar, desabafar, por isso te escrevo, em você (e somente você) eu confio, sabe que eu não sou muito de ter amigos, apesar de ter os melhores. Estou verdadeiramente triste, talvez se alegre um pouco com a noticia de que eu tenho conseguido disfarçar bastante, tenh tentado me distrair também, mas até as distrações são solitárias, né? Você não tem qualquer parcela de culpa nisso, você não tem nada a ver, na verdade, mas recorrendo a você eu tento me lembrar, me sentir, me ver da maneira bonita que eu era, até mais que isso, tento fingir que é real que vale a pena .

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Take me down .

Leve-me ao chão, para as profundezas,
Não vai me levar ao mais fundo, para as profundezas
Por que, oh, por que, não há luz
E se eu não puder dormir, você pode guardar minha vida
E tudo que vejo é...você
Pegue minha mão, eu me perdi no mesmo lugar que comecei
Em meu coração conheço todos os meus erros
Você irá me ajudar a entender
E eu acredito em você
Você é minha outra metade
Limpa e curada...
Quando você dorme, quando você sonha,
Eu estarei lá se você de mim precisar, sempre que ouvir você cantar...
Lá, há um sol, e ele virá,o sol, eu posso ouvi-lo me chamando baixinho,
Eu a tive uma vez, um amar de apenas uma vez, e a vida tinha apenas começado,
E você é tudo o que vejo...
E os trumpets soam, os anjos voam, no outro lado
e você é tudo o que vejo, e tudo que preciso é você
Lá sou um amor que deus colocou em seu coração.

(Smashing Pumpikins)

sábado, 4 de dezembro de 2010

34 .

- Hoje eu parei e fiquei rindo em frente a uma calça 34, daí a mulher atrás de mim me catucou porque eu estava atravancando a fila.
- e qual o problema de vestir 34? u.u
- É que eu adoro quando você aparece assim no meu dia.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

2/12 - Como é misterioso o país da saudade .

Lembro do Tiago no aeroporto, fui busca-lo às 8 hrs da manhã, o tempo dentro daquela enorme plataforma de espera, vontade, sonhos, desejos, fugas era uma eternidade, mas esperaria o tempo que fosse preciso e ele era, exatamente 3 anos que eu o conhecia, sabia dele, tinha ouvido falar, mas ver mesmo, ia ser a primeira. Preparei uma porção de discursos mentais, ensaiei emoções, prontifiquei abraços e planejava segurar o choro, sabendo que não conseguiria de qualquer maneira, mas fingir era a maneira mais sincera de distrair, não consegui por muito tempo, meus olhos procuraram o acaso no ponteiro do relógio, era cedo ainda. De repente o brinquedo que eu ficava admirando através de uma vitrine ia ser meu, já era meu antes, sem toca-lo, sabia da sua honestidade com a necessidade que eu criava todos os dias ao passar, agora seria palpavel. Conseguiria descreve-lo fisicamente, meu amor não teria só nome, sobrenome nem carater, mas teria um rosto. Era lindo, muito branco, muito alto, muito engraçado, embora isso só perceberia depois, era um pouco desengonçado e chorava, chorava mais do que eu. Depois de choros, abraços, encontro, deitamos diante da Lagoa, no píer, a gente ria muito das coisas, das pessoas, do tempo, talvez os de fora se perguntassem de onde viria tanta alegria ou tanto desespero, mas ignoramos e ríamos. Discutiamos coisas sem a menor importância e compartilhavamos o mesmo pavor por caldo de cana. Ríamos do nosso sotaque. Ríamos da vida numa espécie de vingança por ter feito a crueldade geográfica de nos mantermos assim tão (perto) um do outro. Depois paramos, soluçamos por alguns minutos e nos olhamos como quem soubesse que a vida não deixa barato, ela iria rir de volta e não seria por simpatia. A gente tem todo o tempo do mundo, somos tão jovens, mas naquele dia, tinhamos tão pouco tempo e te perguntei quando é que aconteceríamos por inteiro e você respondeu que a eternidade não era questão de tempo, que haviamos sido condenados a eternidade naquele abraço, ele tinha matado a gente de saudade e nasciamos dessa mesma saudade, era por tanto questão de reencontro. Eu sorri, na certeza de que nosso encontro estava no "eu te amo", então, não demoraria tanto. E eu te amei muito naquele dia, talvez não tenha dito, não houve necessidade de afirmar o óbvio. Pôr do sol no arpoador, sorvete na praça, livros e mais livros misturado ao café em nossas mesas, troca, conforto, certeza, como estavamos lindos juntos, como eramos uma coisa só, eu você e o mundo. Deixamos de acontecer como todas as outras coisas, mas não demos o braço a torcer, continuamos bonitos, chorosos demais, saudosos demais, doídos demais, mas ainda assim, lindos. Eu era um espantalho, precisei de um cerebro pra guardar memórias, eu era uma menina que poderia ver além do arco íris que havia compreendido que não há lugar melhor do que nosso lar e encontrei meu lar, eu era leão cheio de coragem, mas com o breve reconhecimento de uma covardia de te perder e por fim, eu fui um homem de lata, soube da existência do meu coração porque ele estava se partindo.
E você foi embora quase que na mesma hora em que eu acordei, foi um sonho lindo, estava o mesmo calor que no dia em que te encontrei, sorri sabendo que reclamaria se estivesse ali, era dia 2 de dezembro, conferi ainda no calendário, não era meu aniversário e de longe o meu mês favorito, mas eu havia te encontrado, eu havia descoberto o preço da felicidade, eu havia sido cativada e havia aprendido a ver bem com o coração (só existe essa maneira, agora eu sei). Dia 2 de dezembro, no Rio de Janeiro, São Paulo, Paris, Londres, onde a gente tiver que acontecer, acontece, e enquanto isso, preparo o meu ritual, é preciso preparar o coração, me diria a raposa. Já não há campos de trigo, já não preciso das estrelas, mas existe saudade e mesmo querendo esquecer, ela bate a minha porta o tempo inteiro me lembrando que eu tenho um compromisso inadiavel com a vida. Parabéns, meu amor, feliz aniversário (de morte pra você e de vida pra mim... brincadeira).
P.s: Da próxima vez, não venha de jaqueta de couro no verão do Rio de Janeiro, nem reclame tanto do sol, uma hora você se acostuma e talvez até ache que a luz que invade o teu rosto e queima é um beijo meu, invasivo mesmo, não te pediria licença, você sabe.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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Jogou o corpo da janela. Nunca havia pensado ser capaz de tanta covardia, mas foi. Ela, toda doce e frágil, agora fria e amargurada numa noite nem tão chuvosa, nem tão estrelada, nem tão nada, nada havia de glamouroso ou poético, pensou. Agora havia um corpo atirado debaixo daquela janela de um apartamento pequeno, mas espaçoso para uma só pessoa. Naquela manhã não haveria de acontecer nada de especial quando acordou, pensou consigo que seria mais um dia e que agüentaria tudo de cabeça falsamente erguida pela necessidade de consertar a coluna para um futuro olhar desatento além do seu, nem tão desatento assim, na verdade. Saiu do quarto e resolveu não tomar café, como de costume, repelindo para si qualquer rastro de comercial de margarina, em que toda felicidade (longínqua) se refletia naquela fatigada hora da manhã, em que o cabelo estava por arrumar, o banho por tomar, os dentes por escovar e a coragem de se olhar refletida num espelho maior do que suas próprias olheiras. Ela era nua descontente com seus vinte-e-poucos anos dentro de um corpo de estatura média, olhos castanhos, cabelo preto discretamente preso e pesando um pouco mais que 50kg, mas o fisico não lhe era de todo incomodo, incomodava mais a falta de vida a qual aquele corpo havia se acostumado, as costas um pouco curvadas, os pés inchados, as pernas com leves manchas arroxeadas, fruto de seu descuido ao andar por entre os móveis. Entrou no banho, um pé de cada vez, como se a água quente queimasse, mas não queimou, também não aliviou qualquer pressão de seu corpo, ao contrário, parecia cair ainda mais pesada que cada gota daquela água, até que caiu de vez. Se desmanchou em cima daquele ralo, suas lágrimas se confundindo entre todas as outras gotas e não sabia distinguir mais o que lavava o corpo e o que queria que lavasse a alma, mas chorou de uma vez, para logo em seguida respirar fundo e levantar num folego só tão rápido quanto caiu. Bambeou um pouco, porém conseguiu se manter em pé em pleno equiibrio. Sabia que depois dali, não choraria mais a manhã inteira. Procurou comer algo ainda que sem vontade, procurou ler o jornal sem conseguir se concentrar, os problemas do mundo não eram tão perigosos quanto o seu naquele momento, nem no seguinte, tomando um gole de café, ela se arrumou para sair, pensou que não via a luz do dia fazia tempos e de repente subiu-lhe um arrepio na espinha de que seria mais um ritual, que venderia mais que sua alma, mas o corpo também por mera tentativa. Ela era ousada, não haveria de demorar muito, só o suficiente, o tempo dela. Saiu porta afora com certo desaforo, tanto desaforo que desceu as escadas do quarto andar até o terreo para não ter que olhar nem manter qualquer dialogo inconveniente com qualquer vizinho, passou pelo portão de entrada e optou pelo caminho da esquerda, percebeu que sua rua havia mais arvores que pessoas e sentiu que podia respirar um ar mais leve, talvez até sentar embaixo de uma daquelas arvores, no meio da rua mesmo só pra se sentir mais terra, mais chão, como se fosse possivel, mas percebeu que não tinha um livro na mão, nem nada que justificasse ficar muito tempo ali sentada sem ter que pensar em nada, pensando em algo, ela só haveria de se tornar raiz e não levantar dali nunca mais, um chão quente, mais confortavel e mais natural do que o do seu banheiro que já havia sido um sacrificio. Não, não precisava cair. Encontrou um cão na rua, deixou passar, passou por crianças e quis se fazer de invisivel, não foi preciso, passaram direto, sentou num banco vazio de uma praça bem na esquina e pensou que seria muito simples ser criança de novo, mas não suportou a ideia de ter que crescer e sentiu pena de todas elas, mais do que de si mesma. E sorriu. Sua memória era até boa, mas não se lembrava de sua infância, nem se tinha sido boa ou ruim, por intuição acreditou ter sido cercada de muita gente, sua educação era boa, sua cultura também, porém não sabia de nada, não sabia andar de bicicleta, não sabia nadar, não sabia essas coisas tantas que se aprende na infância e voltou a fechar a cara, pensando que rastrear a si mesma não era uma boa ideia. Logo recomeçou a andar. Não querendo se distanciar mais de casa, por medo de não ter forças, mentira, se se afastasse demais era bem capaz de fazer questão de esquecer o caminho de casa, ou pior, de ir atrás dele. A tentação era grande, mas não sucumbiu. Voltou à casa pelo mesmo caminho de antes, fechou a porta com certa força, pensou em ler alguma coisa, mas não conseguiria sozinha, teve a péssima ideia de ligar pra alguém, já não havia ninguém para ligar, ninguém de dissesse algo diferente de que vai passar, vai ficar tudo bem, cansada das mentiras todas, resolveu ligar o rádio. A primeira música estava prestes a terminar, reconheceu ser Chico buarque em "Futuros Amantes", esperou pela próxima depois de tantos intervalos comerciais que não dizem nada interessante, não queria brindes, nem sair para dançar, qualquer promoção ou propaganda dessas era inútl naquele momento, foi quando na próxima música ouve uma certa curiosidade e aumentou o volume, um tanto barulho que seria capaz de chegar na casa do vizinho, pensou que não haveria ninguém em casa àquela hora, então, reconheceu no fato o que havia desconfiado desde o íncio: era a voz dele. Depois de tanto tempo, ela reconhecia aquela voz, reconhecia aquela musica tocada tantas vezes num violão desafinado em sua própria casa, era longa, não haveria de acabar por agora, ela ouvira não mais que três vezes sempre incompleta, sempre por terminar e se sentiu traida por ele ter compartilhado em rede nacional o que era segredo deles, não o perdoaria por isso, logo depois sentiu raiva, raiva dele não saber o que era dor de verdade, de cantar mentiras, de ter partido sem dar um motivo decente, depois ela teve medo de que a reconhecesse em qualquer parte desconhecida daquela música e voltou a sentir raiva por ele estar vendendo tão barato a sua dor sem lhe dar sequer o direito de defesa, uma linha que pudesse justificar sua loucura, estava louca, louca de ódio, raiva, mágoa, vergonha e medo, havia sido exposta ao mundo como se tomasse banho em praça publica sem se sentir limpa, sem se sentir cuidada, merecia por direito senão parte daquele dinheiro, parte daquela dor. Ele haveria de saber disso. Mas a sua voz era tao bonita, não esquecia sua imagem, não esquecia dele, ela tentou, ela enganou, ela mentiu, coisas que não serviram pra nada, apenas algumas tentativas desesperadas de uns remedios a mais e uns cortes pelo corpo. Nada muito desesperador agora que havia passado. De repente, a musica parou, ficou suspensa num acorde só de um violão vazio assim como seu corpo naquela janela, uma falha, uma falha que custou a covardia dela, que lhe custou alguma coisa que ela havia trocado antes por sua própria vida, vendeu sua alma, sua rotina. Havia jogado o próprio corpo da janela, sem ao menos ouvir o final, não faz mal, a música ficou em sua cabeça por terminar como sua própria vida, suspensa naquela estação de rádio, suspensa naquele fim de tarde, suspensa naquela janela, no minuto seguinte terminaria:

"Da dor fiz meu pranto,
já não me encontro em estado de amor,
já não me encontro, se bem lhe digo,
me perdi na curvatura do seu corpo
e é lá que você me espera voltar
enquanto em mim fica aquela interrogação
que mato sem vontade alguma com tantas outras,
mas certeza mesmo, só você
certeza mesmo só você
que não volta porque não se foi..."


Ela tinha ido.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

- Eu queria escrever algo bonito aqui .
- Escreve que me ama ?!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Acredito que tenha perdido a memória . Não voltou .

Posso perder a memória enquanto durmo?

Acho que eu ia acordar tão levinho :)

Se acontecer isso, quero que vc saiba que eu te amo, carol, eu sempre te amei, e me arrependo muito por ter ficado distante de ti daquela vez, por não estar por perto quando vc precisou.

Quero que vc saiba que eu sonho com o dia em que vou te abraçar, e que por mais de uma vez foi você quem salvou minha vida.

Quero que saiba que se eu perder a memória hoje a noite, fale comigo amanhã e eu tenho certeza que te amarei outra vez. porque o sentimento tá guardado em outro lugar, longe dessa cabeça doente.

Quero que saiba que sou grato a vc por tudo, e que nesse instante eu não consigo parar de chorar.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Queria muito ouvir tua voz. Queria que viesse até mim da forma que fosse. Mas não permito mais.
Senti uma necessidade grande de me afastar de você, foi dificil, foi trabalhoso e muitas das vezes, inconveniente. Ainda é - não adianta tratar como passado o que ainda marca a ferro. Mas chega. Estou envolta numa vibração muito boa que sou eu mesmo agora. E acredito não ter volta. Ah! Quero ficar nessa suspensão das coisas por enquanto. Não me entenda mal, mas se eu pisar num falso qualquer, acabo me confundindo em você e não posso.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

te amar pessoalmente!

E se acontecer de eu estar apavorada? Criei um mundo pra mim, ele tem se tornado real, numa tal veracidade de real que me agride, me esbofeteia sem esperar que me levante. Um incomodo no estômago, um arrepio na pele e o suor das mãos denunciam: ele está perto. Tudo que eu mais esperei. Não comporto, comprovei. Me mascaro de forte, me mascaro de presença quando tudo que sou desaba por dentro, as pernas bambas fingem estar firmes e faço expressões sérias de quem ri quando quer chorar. Peço, repito, imploro: calma coração. Vai passar já. Tenho medo que passe também. E se eu tiver nas mãos o que foi feito pro coração? Remédio na alma. Meu  medo é que parta, mas também que fique. Fique como saudade, como lembrança, porque vai marcar a ferro, não tem volta. E se for também, como conseguir ser depois disso? O durante pode ser precariamente grandioso, muito pouco pro muito que se quer dizer, que se quer sentir, que se quer ser. Talvez seja suficiente, não sabemos. Você acharia ridículo tanta preocupação, eu também acho. Mas não tem outro jeito. Ou eu não vejo saída, a verdade é que vejo muitas saídas. Tudo tão confuso. Queria não estar tremendo, queria que essa vontade de chorar ao saber do teu nome não fosse tão constante, queria não sonhar também, não por agora, elevação de nervos a loucura. Quem sabe até onde se suporta? Você se importa de verdade? Aposto que leu até aqui com um sorriso no canto da boca e deve ter revirado os olhos no mínimo duas vezes, me chamando de boba e me achando patética por tamanha insegurança. Eu sei. Sou tudo isso mesmo, acredito que não esperasse nada muito diferente. Aliás, não espere nada muito demais não, além desse amor enorme, a mão suada e a voz trincada entre os dentes. Juro que tentarei conter minhas lágrimas se contiver as suas. Não, vamos chorar que nem dois bebês, temos a noção do que temos na mão: um ao outro. E nesse momento, habitaremos o até então desconhecido do momento anterior e o abandono do gesto seguinte, bem naquele espaço que só se conhece uma vez quando há, de fato, um encontro. Depois vai ser agradavel, mas não será o mesmo. Seremos eternos no tempo, na mortalidade da gente. Minha cabeça não para, quase sinto sono, andei me movimentando o dia inteiro, identifico o sono como algo real. E o resto? Eu já não lembro. Se eu ficar louca, me interne urgentemente, de tão feliz, eu ando triste .

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Deixe-me esquecer do hoje até amanhã.

Botar na cabeça o passo de cada dia.
Inventar para si tantas estórias para estancar o sangramento.
Reconhecer inutilidades na passível luta.
E ter respeito à essa fraqueza.
Aumenta o som que eu quero meu coração
Batendo em outro ritmo além do seu.
Tem insistido em bater.
Mas já não abre.
Moldei a sua voz ao meu caminho.
E não vou a lugar algum, ainda que tivesse pra onde.
Pare. Se deparar com o display, olhar os próprios pés:
Hey, Mr. Dylon, play a song for me.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O que tem de tão magnético em você...

que me faz voltar como nunca tivesse desejado ter saído?
“Meu cansaço me espanta,
estou plantado por meus pés,
não tenho quem encontrar,
E a velha rua vazia está
muito morta para sonhar.”

Bob Dylan – Mr. Tambourine Man

Se me perguntarem o que escrevo, direi que peço socorro, ajuda, carinho... O que me abrigar na hora. O primeiro (res)sentimento. Daí talvez acredite qual parte de mim você ocupa, senão eu mesma.

Olha, dois meses, ou até mesmo um, é muito tempo. Te digo isso, porque por mim, eu esperaria o tempo necessário, mas por mim (também), sinto que não tenho esse tempo. Que é outro. Um tanto confuso, sei. As coisas bonitas já não acontecem, tenho medo de não terem acontecido em lugar algum senão na minha cabeça, dentro de mim. Te escrevo não para isso, mas porque o tempo de espera é longo, enquanto passa vou me distraindo ao que estiver o meu alcance, talvez seja esse o problema: o que está realmente ao meu alcance? Poderia te dizer que ando mais introspectiva, que ando tomando conta do de dentro primeiro, seria mais bonito, mais poético, mas seria também inverdade – gosto da palavra inverdade, dá aquela boba sensação de que não é verdade agora, mas talvez num futuro seja, ao contrário de mentira, sempre condenada a ser mentira – tenho fugido de pessoas, evitado mesmo, ainda que não possível, eu me distraio com devaneios involuntários, antes eu me esforçava para que da boca delas saísse som e desse som, eu pudesse pescar palavras e encaixa-las para que fizessem algum sentido. Já não fazem. E é demasiado o esforço. Geralmente –e tem sido corriqueiro- não vale a pena. Mas o sentimento continua o mesmo. Prefiro acreditar que. Poderia te contar dos meus dias, mas não há nada de muito interessante e acredito que ao fazê-lo, te preocuparia ou confundiria ainda mais, mais do que qualquer outra coisa, por isso, apelo para a arte. O desencontro também pode ser muito bonito, não é mesmo? Penso que o desencontro não deixa de ser outra coisa a não ser arte. Assisti a um filme que me lembrou você, a gente, estava mais pra um ponto de vista meu mesmo. Se chama “Os famosos e os duendes da morte”, mais perturbador do que o título é o próprio filme. É brasileiro. Acho que o primeiro filme de Esmir Filho, não sei. Os atores são gaúchos e você sabe (?) o fascínio que tenho por sotaques. Me encontro da mesma forma de quando terminei de vê-lo, perturbada, desequilibrada emocionalmente, mas sutilmente poética. E é de um impacto apavorante, terrível, desesperador, intenso, mas não deixa de ser bonito, ao contrário. “Estar perto não é físico, e estar longe não é definitivo”, literalmente. Acredito que você vá gostar, as músicas são de Bob Dylan, também acho que curte. É de uma identificação agonizante. De qualquer maneira, tento te mandar.
A quantas andas tudo por aí? Não entendo muito bem dessa tua relação com T. mas acho que nem você mesmo entende, não é mesmo? Um tanto confuso, mas espero que esteja bem.


Te mando uma energia que não tenho e te amo,

Ana C.

P.S1: Desculpa o desânimo, a tristeza, a agonia.
P.S2: Mas com você não consigo deixar de ser sincera.
Se me perguntarem o que escrevo, direi que peço socorro, ajuda, carinho... O que me abrigar na hora. O primeiro (res)sentimento. Daí talvez acredite qual parte de mim você ocupa senão eu mesma.

sábado, 16 de outubro de 2010

Para além da lembrança .

Ana Carolina, para com isso agora!

Minha vontade era ir até aí e te chacoalhar, te dar um tapa pra acordar. Mas acho que não adiantaria, você precisa é de colo agora, por mais que esteja falando essas besteiras.

Deve estar realmente bem dificil pra você. Dificil de viver e acreditar nas coisas. Não sei se você parou pra se dar conta, mas sua vida influi em muitas coisas e faz diferença pra muita gente.

Eu gostava quando você acreditava que eu te amava e me importava contigo, mas parece que cada vez tem ficada mais dificil de vc acreditar que eu existo.

Talez seja pelas minhas cartas que nunca chegaram.

Mas até minha voz você acha que é irreal.

Nada disso é mentira, ou faz de conta. Minha voz, meu amor, o quanto eu me importo.

E se eu tivesse cansado de você, acredite, você não teria nenhuma duvida, e não estaria lendo esse e-mail.

Carol, eu te amo. Te amo muito mesmo, e não tem dia em que eu não pense em ti, seja pra imaginar como você está, ou pra divagar sobre o que falaria sobre algum assunto.

Tomara que aquelas coisas que eu li sejam por causa da bebida, e que vc não volte a beber pra ficar assim, porque não é essa a Carol que eu conheço. e nem adianta vc vir dizer que essa é a verdadeira, porque eu sei que não é.

Eu sinto a Carol verdadeira, ela tá em parte dentro de mim, assim como eu estou nela, e por isso eu conheço.

Agora vc trate de traze-la de volta, porque mesmo na fraqueza ela é forte. Ela ri do que pode fazer mal, e mesmo quando cai, no chão, ela finge ter deitado por si propria pra descansar. A Ana Carolina que eu sei que existe aí em algum lugar, ela se entristece, mas sabe que o melhor está por vir, e não se cansa de viver por isso.

Espere pelo melhor, ele sempre vem, e se não vir, eu o levo até você, espera mais um mês, ou dois, é sério, a gente vai se ver, se abraçar.

Finalmente vamos, só preciso pra isso que você aguente.

Quer minha ajuda, eu ajudo, grita por mim, e eu apareço em algum lugar.

Não é orkut que me fazia presente pra você. é o amor que faz isso, carol, para de se esquecer das coisas importante, que droga!

Você não é assim, você acredita no que eu sinto por você, não tem duvidas. Poxa, só acredita nisso, sonha com isso, se apega. E se não for o suficiente, eu vou aparecer no msn quando você menos esperar pra te mostrar, te provar o contrario.

Eu te amo, para de esquecer disso.

Artur D.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Post-it

Amanhã é outro dia,
o amor também é outro,
nós também o somos,
é necessário se adaptar ao sem forma,
ao sem cuidado, redizer o não-dito.
Você não vale nada, não quando
me machuca. Mentira! Valeria ainda que fosse
embora sem olhar pra trás.
As palavras tendem a ferir mais que dizer alguma coisa
realmente relevante. Não me escuta. Escute o inaudivel, que
grita tanto quando você não está por perto. E é de uma solidão terrível.
Não existe outro lado, é do seu que quero ficar,
e é do meu que eu quero que se acomode.
Olha, é um tanto desajustado, um tanto confuso, mas
arrumar a casa dá trabalho e enquanto nos ocupamos de um cômodo,
o outro vai se sujando, não é possível cobrir todos ao mesmo tempo, comigo não é diferente.
Quero ser apartamento. Não casa. Preciso de um centro, uma referência,
de preferência, com uma ilusão de calma, aquela trancada dentro
do quarto pra disfarçar a solidão.
Olha, preciso de você aqui. Era isso que queria ouvir?
Talvez nunca te diga com tanta clareza.
Mas acho que sabe. Espero que saiba.
Você é de Virgem, né? Vênus em Libra,
eu sou de peixes, Vênus em Touro.
Ser meu, não sei se é a melhor parte de você, mas
com certeza, é uma parte nobre de mim.
Amanhã a gente briga, ok? Hoje não.

Não valho nada, não é?

Ao som de Chico Buarque,
Futuros amantes.


Acredito que nesses últimos dias ando melancólica demais, chorando a toa, um tanto saudosa, mas isso não é ruim não, quer dizer, depende do dia. Foram tantas as lembranças que vieram a tona e uma confusão mental que por mais estranho que pareça, aquietou meu coração, uma zona de conforto por estar jogada ali naquelas imagens que hoje se transformaram em qualquer outra coisa como a própria vida. Minha vida. E me alegrei ao lembrar da primeira vez que eu te vi, você me causou um transtorno comigo mesma, você me provocou a ponto de sentir por você uma espécie de incomodo. Era 14 de julho de 2009. Nos meses seguintes, eu observaria você, um tanto longe, um tanto perto, pelos amigos em comum. Até o dia em que a gente se reconheceria e acredito nunca ter te contado isso, mas o primeiro dia em que arranjei uma desculpa válida pra te abraçar, chegar mais perto, foi no dia 3 de setembro, dia do teu aniversário. Essas datas não representam nada, são apenas datas, talvez demonstrem que a minha memória esteja um tanto boa. Mas acima de tudo, os momentos celebram o que a gente é, o que a gente construiu. Acho que não era nada disso que eu queria dizer.
Essa liberdade que carrego no peito, viva como esperança que não morre nunca, uma espécie de luz no fim desse interminavel tunel, ainda que ajustada dentro de corpo e mente que desconhece limites, limitações e razão, isso aprendi que não é nada mais que amor. Amor na raiz da palavra. Amores serão sempre amáveis. Um amor um tanto Eros, as vezes Psiquê, por outro Ludus, de vez em quando Storge, outrora Pragma, Mania ou Agape, ainda assim, amor. E houve reconhecimento imediato, no momento exato, mas nos precipitamos ao tentar molda-lo, ao que já era da gente, pra gente. Era cedo pra você se acostumar com a minha bagunça excessiva, não-convencional e por vezes, esse fechamento dentro de mim mesma - que você tanto reclama, as vezes com razão, mas só as vezes - quase ao mesmo tempo também em que eu demorei a me acostumar com essa sua excessiva mania de querer controlar o que não tem controle, numa veracidade que nem mesmo entende, por vezes. E passado isso, caímos no que você chamaria de erro e eu chamaria simplesmente, por falta de controle da coisa em si, de "a gente", essa tentativa de pronunciar o que tinha som próprio, de pôr em palavras tão passiveis de erro o que a gente não conseguia comunicar a mais ninguém, não era preciso chamar, ele era real, torna-lo ainda mais real seria mais que uma possível queda, mas uma pretensão nossa. Não gosto quando diz que me amou, não me ama mais? Você me amou, isso me deixa em paz, me joga em alguma espécie de segurança, porém, você me amou, isso me desespera, me faz acreditar que agora o tempo é outro e que não volta. Você me ama. Um amor travestido de tantos outros sentimentos, à você eu não consigo ser indiferente, ainda as vezes carregado de saudade, mágoa ou qualquer outro, tudo menos indiferença, é um esforço desnecessário fingir e fugir também. Tanto de você quanto de mim. Os meus lábios eram seus, as minhas mãos eram suas, os meus olhos eram seus, junto com o meu amor e todo o resto, desde o dia em que aceitou para si essa bagunça de um-metro-e-sessenta-e-três-e-quase-cinquenta-quilos. Ainda são seus, talvez de outra maneira, mas se você quiser, o dia que quiser, porque é preciso selecionar alguns dias. Você vale o meu sorriso, vale o abraço, vale o meu beijo, vale o meu cheiro, vale o meu colo, vale o meu choro, vale o meu dia. Sem você, quem não quer valer nada sou eu.


"Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado... Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique" Caio F.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

"E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais..."
Caio F.

sábado, 9 de outubro de 2010

Condicional .

Eu necessito dormir um pouco mais, necessito escrever até meus dedos doerem, necessito falar até a garganta secar, preciso sentir até o meu coração sangrar, preciso sorrir até me sentir linda. A verdade é que tenho me alimentado com suas raspas e restos e não me importa o todo. E quanto tempo dura? Quanto tempo dura a sua voz no meu ouvido carregada pelos lugares onde andou? Carregada de tantas outras bocas que não importa quando dá preferência a minha. Quanto tempo (mais) dura?


"eu sei é um doce te amar, o amargo é querer-te pra mim"
Los Hermanos

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Bagagem .

Só ouço dizer que sumi, talvez seja verdade, talvez não, mas em qualquer lugar que eu vá, só posso carregar o muito de mim e mais nada, no máximo uma mochila nas costas sem ao menos me dizerem pra onde é o caminho. Eu tentei, tentei muito me encaixar numa coisa que não entendia muito bem o proposito, só para ver se em algum lugar desse mundo, houvesse algo ou alguma coisa que calasse uma voz maior aqui dentro me vendo incompleta, totalmente sem proposito, sem vocação pra coisa alguma no que diz respeito a todos os outros. Por um determinado tempo, eu até consegui, consegui mentindo, enganando a alma um pouco, tentando dar importância ao sem importância de fora de mim, esqueci alguns propósitos, meu compromisso com a verdade comigo mesma, achando descarado mentir assim sem tamanha prudência. E por esse tempo passado, eu conheci uma porção de gente, umas que simplesmente aconteceram, outras que a vida deu um jeito de fazer conhecer mesmo, outras por conveniência, acredito que as pessoas que eu quis conhecer de verdade me decepcionaram mais do que aquelas em que tudo foi um processo natural, mas continuo acreditando ser bom conhecer pessoas, mais ainda que não se espere nada delas, porque no final, só se há de haver surpresas e essas serem para um lado positivo. Não entendo bem, as pessoas estão tão mortas, estão tão mesquinhas imersas naquilo que tomam para si como um bem superior, ou seja, a si mesmas. Dentro de um processo de informações, elas possuem assuntos que não me agradam e não sendo nenhuma exigidora de assuntos extremamentes reveladores, interessantes, nada disso, mas mesmo que só na companhia, as pessoas são tão neuroticamente modas, reproduzões daquilo que elas seriam se não fossem elas mesmas, não sei, acredito que exista uma coisa bem maior que isso, acredito não, eu sei que existe, nesse mesmo período de observação, conheci pessoas interessantissimas não somente por assuntos, claro, mas por verem um mundo através de seus próprios olhos, passaram a enxergar também com os olhos do outro e isso me acrescentou uma humanidade, me fez resgatar alguns valores dentro de mim que julgara terem se perdido. E eu quis ser maior, maior do que eu era, porque eu poderia ser maior, claro, sem que pra isso ninguém fique abaixo de mim ou acima, mas simplesmente do lado. Era necessário respeitar um tempo, uma cronologia que não era essa a noite, ainda que as minhas armas de luta - sim, porque essa massificação do cotidiano é uma luta - sejam pequenas, sejam poucas, elas são antes de mais nada minhas, começam por mim e elas não ferem, não ferem a ninguém que esteja interessado em estar perto, são as armas que eu posso utilizar com algo que já está por si só condenado à falência, condenado a ser exclusivo de uma minoria que não quero e não preciso fazer parte, ainda que muitos digam das tais armas: covarde, são elas que me salvam de uma loucura qualquer da qual eu talvez já faça parte, quero continuar a utilizar as forças que elas têm, quero me aproveitar do contato que ela me permite com o mundo, quero continuar usando as palavras, como forma de arte. Como confrontamento do óbvio, como denúncia de algo não está certo, não está tudo bem, mesmo que seja olhando pra dentro, tentando arrumar uma bagunça interior pra depois poder botar a mão no mundo, ou o contrário, que a partir da minha insatisfação ou da minha inquietação com o mundo, eu possa escrever ainda mais algo que só me diz respeito, algo que me provoque, me jogue em questionamentos constantes do que viemos fazer aqui, do que precisamos fazer pra ser mais, do que é realmente necessário em termos de vida, talvez não seja muito, mas é o essencial pra que haja um resquício qualquer do que seja dignidade, do que seja grandiosidade e entre outras tantas palavras (e pessoas) perdedoras, antes de mais nada, de significado.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A minha vontade era correr até os braços dela, deitar no colo e chorar até ela saber de tudo, tudo mesmo, até ela me dizer alguma coisa boa, me pegar no colo como na infância e ficar mais leve, menos rancorosa com as coisas, mas já é tarde. Ela até me daria colo, mas diria que é da vida ser assim, ia falar em Deus - e não me interessa aqui se acredito ou não, mas o que eu sinto é humano demais hoje - ela diria que é errado fazer tanta mais coisas que na época dela não existiam, diria que é necessário ser menos boba, mais pé no chão, ela diria uma porção de coisas que não valeriam o colo. Ela diria que tudo é bonito na literatura, que na vida não funciona, não tem praticidade. E eu precisava tanto que ela me entendesse. Não entenderia. Eu decidi, amanhã tiro o dia de férias. Não quero ver ninguém, eu quero ver o mar, quero fechar meus olhos e ter a ilusão, mesmo que por um segundo de que vai ficar tudo tranquilo de novo. Ainda que seja mentira. Mãe, fala comigo... quando eu sei ouvir.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Só nos sobrou do amor a falta que ficou .

Ela era tudo que eu tinha. Ela era o tipo de menina que você se apaixonava só de se aproximar, eu me aproximei demais, consegui ler por muito tempo o pouco que ela me permitia, pouco para ela, porque para mim era muito. E tudo tão intenso, tão confuso e sincero. Ela tem uma sinceridade assustadora, devastadora, ela é dona de si mesmo quando desconhece o medo do outro, mas eu a deixei ir. Não que ela quisesse ir embora, ao contrário, ela lutou muito pelo espaço dela que assumia com tanta prioridade, eu que não sabia lidar com o muito que ela era. Me perdi. Sem o abraço, o cheiro dela, sem o beijo dela, eu me perdia e ando perdido depois de tanto ter feito para que me deixasse, mesmo que não proposital. Eu era muito pra ela também, eu sabia, só que a minha necessidade dela era tamanha que eu não confessava e sofria aos quatro ventos para que ela sofresse também, essa coisa absurda de chamar atenção a qualquer custo pra ter metade da atenção que já era minha. Foi idiota, eu sei. Eu a magoei, matei cada pedaço dela pouco a pouco de tantas maneiras diferentes, tudo porque eu não sabia lidar com o muito que ela é. Nunca me confessou suas dores nem rompimentos em relação a mim, eu a testava frequentemente, achei que ela fosse forte, deveria saber o quanto dela morreu diante ao pouco que eu fui. O engraçado é que ela não morria, não na minha frente, ela voltava inteira, seus olhos eram atentos a mim como nenhum outro e eu teimando em olhar para o lado de vez em quando.
Ainda quando a vejo, me pergunto como depois de tantos tombos, ela se mantem de pé. Forte toda vida, ela perdeu muitas outras coisas, pessoas, tudo o que não sabia lidar com o que ela era. Talvez eu não perceba o quanto de medo ela guarda dentro dela, ou simplesmente, não quero ver, teria que lidar com tudo de novo. Eu a amava. Só não soube lidar com o amor, a entrega dela. Ela era responsável pela minha felicidade, esta que eu esperava aparecer na minha porta de uma vez só como se fosse possível, como se fosse verdade... sem me dar conta de que ela era minha, conquistada todos os dias, pouco a pouco, as vezes no braço, mas era gratificante ser minha, porque eu a dizia e a fazia minha, não existia outra. As coisas desandaram muito, eu não era o mesmo, ela era maior. Nunca mais soube o que ela sentia, o que a fazia rir, porque ela chorava, se ela chorava, o que ela achava da guerra do mundo aqui fora ou o que andava fazendo nos dias de muito sol, nada, eu não soube de mais nada, tudo porque... eu não tive a coragem de.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ao único homem ...

Não tinha certeza quantas vezes é possível se apaixonar por uma mesma pessoa em uma única existência, se é que existe número exato para isso, mas sabia que só nessa semana havia sido três. E sentiu-se feliz. Ainda me confundo na tentativa de tentar descrever exatamente o que Artur significava, seria ele um anjo ou um rei? Não sabendo ao certo, decidi me confortar com a certeza de que o conhecia de outras muitas vidas, vidas passadas e tornei às minha crenças, que nunca foram feitas para acreditar nisso, e misturei-as com a minha sensibilidade que também não dizia que não, não sei na verdade se acredito, acho que acredito mesmo é no bem. E quando querem te fazer o bem, não importa no que acredite, conseguem. É claro, o outro lado que chamaríamos de mal também tem o mesmo efeito, mas isso não é importante. O importante aqui é aquela velha sensação de que Artur seria o único capaz de compreender o que sinto sem dizê-lo, e melhor, seria capaz de compreender a hora exata de que sua ausência grita, ele a ouviria ao longe e sem pensar duas vezes, apareceria a minha frente perguntando o que desejo, me pegando pela mão sem eu mesmo poder ver seu rosto, e estaria pronto também a me dizer sem medo tudo o que seria necessário ouvir, o que ninguém mais se atreveria, com a magnifica diferença de que suas palavras soariam tão doces, tão maleaveis e gentis, mas não menos efetivas que qualquer outra, ao contrário. Ele sabia se impôr como um rei, ser consolador como um anjo e justo com o mais genuino ser humano, ainda não identifiquei a totalidade do que o comportava. Sua voz melodiosa como uma música, seus olhos piedosos como uma mãe e suas mãos tão firmemente acolhedoras, eu queria ser maior, me sentia maior na presença dele, quase como uma pessoa comum que se ajoelha diante dos olhos de uma divindade e alivia todos os seus pecados, era bom, era bom ele estar sempre ao meu lado, ainda que o visse maior, bem maior. Artur me ouviu, me foi paciente, salvou minhas noites como em tantas outras vezes, no fundo, acho que ele mesmo sabia disso. E diante de tanto sentimento confessado, tanta liberdade de sentir, Artur começou seu diálogo com uma pergunta:
- Tem certeza de que é isso que você quer?
Sem pensar duas vezes, respondi com a maior tranquilidade do mundo, tranquilidade que só ele conseguia me dar sem o medo de haver um julgamento:
- É isso que eu quero.
Achei que Artur me faria mudar de ideia, dizer que o que eu queria era um tanto absurdo e que não queria me ver quebrar a cara de novo, fazendo dessa ultima revelação mais um fato que uma probabilidade, mas ele era diferente de todos os outros, por vez, me disse:
- Olha, meu anjo, eu não quero que você sofra de novo, não quero isso nunca, mas se é da sua vontade tamanho desejo, eu traria pra você, buscaria até estar bem diante das tuas mãos e faria isso por você.
Eu sabia que não eram palavras soltas, por mim ele fez muito e faria muito mais, mas era a minha luta, a minha determinação o que diria se era merecimento meu ou não. E dizendo a ele isso, eu sei que entendeu e ainda assim ele me disse:
- Você tem razão, ninguém vai trazer ele pronto pra você, na sua mão. E todas essas guerras que terá que travar, você vai ver que elas valerão muito mais o objeto do que se tivesse sido entregue em mãos. À você, eu só desejo boa sorte. Mas o que te detem é medo?
De repente, me dei conta de que meu medo não era em relação as minhas vontades, mas das armas não serem o suficiente para durar uma batalha inteira, ou se durar, não chegar a grande guerra.
Contemplando-se de qualquer coisa como sabedoria, ele me fez sentir grande de novo, me colocou em um lugar que eu não sei se me pertence, mas que assumi com certa grandeza e atitude:
- Eu não duvidaria das tuas armas, elas são tão poderosas quanto você e não tenho duvidas que sabe disso, se o seu medo era esse, ele acabou aqui e agora, as tuas armas são grandes, um tanto maior quanto das outras pessoas a sua volta, quem vai decidir a proporção na qual elas serão usadas é você.
Não me coube mais do que comportar todas informações e agradecer a esse menino grande que me ensinou a correr atrás de todas elas e a manuseá-las. E me tomou pela cintura me pondo a sua frente, me olhou na curva da verdade dos meus olhos e reafirmou em outras poucas palavras o que me havia dito, mas de uma maneira nova, de uma maneira que me contemplou como rainha, anjo, divindade, não sei, aquela criatura estranha que eu reconhecia nele, mas não sabia identificar.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A Grande Rainha .

Foi atrás dele pronta a dizer tudo, dizer não, mostrar, o que havia escrito para ele nos últimos tempos em que conviveu com sua ausência, sabia justamente onde encontrá-lo, ao entrar, parou um pouco e teria ficado tonta e confusa se não tivesse respirado bem fundo e decidido ir em frente, com o coração inquieto e as mãos trêmulas, mas nada disso a deixava menos decidida. Ao mostrar tamanho carinho, paixão, saudade e um pouco de amor - digo um pouco, porque não estava tão pronta assim a assumir o que sentia de cara - achou que ele se valeria de ao menos um sorriso para ela, uma retribuição que valeria o sacrificio de te-lo procurado. Nada. Menos que nada, ele a ignorou como se não tivesse lido, não tivessem vivido nada do que estava proposto ali, ela deu de costas, ainda tremendo, com medo de olhar para trás, com uma vontade enorme de voltar e dizer como foram esse últimos dias com ele em todas as outras pessoas, em todas as outras situações e como tinha descoberto a magnitude do que sentia, depois de desmontar outros tantos sentimentos que a afundaram naqueles tempos, porém, era tarde. Se apossando do tempo, ela decidiu partir, o mesmo tempo que o trouxera, levaria ele embora e nem era necessário fazer-se de forte, ela estava decidida, havia amadurecido nos últimos acontecimentos, orgulhava-se de não ter derramado uma lágrima sequer por nada, nem pelos amigos saudosos, nem pela confusão em casa, nem por ver tudo se perdendo no que não era ela, poderia dizer que finalmente, ela havia aprendido a ser forte, se virar e a apanhar da vida de pé, cabeça erguida. Ela se equiparava as sacerdotisas de Avalon, na qual, eram treinadas para não demonstrarem nada além de uma aparência calma, confortável, sem expressões de susto ou medo, suportavam o medo, o frio e a fome sem reclamar, quase uma rainha. Uma vez que chegou em casa, o cansaço bateu e o acharia normal se não fosse a dor que sentia começando aos poucos por seu corpo, de baixo para cima, com as pernas um pouco desajustadas, a coluna que parece ter carregado algo muito pesado e seus braços um tanto molengos, sabendo que não conseguiria portar-se de pé, ela deitou e se cobriu com certa dificuldade ao tentar se esticar um pouco para pegar a coberta. Por instantes, concentrou-se nas dores de fora, no que ia acontecendo lentamente ao seu corpo durante toda aquela descarga de adrenalina e cansaço acumulado de tempos passados. Seus olhos pesaram, mas não era sono, abateu-lhe o medo de entregar-se a certos delirios, imagens ou qualquer outra situação interior, que ele tinha bagunçado sua vida era fato, sua mente também, mas o seu corpo, era inaceitavel. Inaceitavel ou não, ela tinha que se conformar que de qualquer maneira, seu corpo já era dele, era dele antes mesmo de tomar posse, era dele fazendo-na mulher, era dele marcado na saudade... e se entregou naquela febre que não cessava. Seus delírios eram mais lembranças do que projeções de pessoas ou situações não existentes, mas ainda assim, se misturavam. Não tinha mais forças para nada, mas não se entregou, decidiu levantar devagar, se apoiando no que havia a frente e desengonçada, tomou a coragem de se lavar mesmo que para depois se atirar na cama de novo e tornou a se comparar àquelas sacerdotisas da Ilha sagrada de Avalon que após terem visões sobre o futuro, sobre determinadas situações que nenhum homem pudesse prever, se sentiam cansadas, exaustas e por fim, doentes. Chegou a achar intermináveis aquelas lamas e brumas que cercavam tal ilha misteriosa, queria tudo claro de novo e tão real quanto pudesse ser. Querendo ser nobre e rainha, dona das próprias terras e entregar seu destino a deuses e deusas, achou prudente esperar o tempo, não esse que era o de todos os outros, mas o que se passava nas terras de Avalon, esse sim era devastador em si só e voltando-se à magia, aos sacrificios e ao mistério, lembrou que nessas mesmas terras em que procurou abrigo, ainda que coroada rainha de si mesmo, conheceu um rei - rei Gwyndion- cuja espada era sua sabedoria e sua mão a justiça, fechou os olhos e descobriu-se menina em seu colo. Mais uma vez.

domingo, 5 de setembro de 2010

Strip-Tease

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum.
Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender. Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares.

Quero que você me escute, simplesmente. Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes. Primeiro tirou a máscara:



"Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância:



"Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado:

"Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou". Retirava o medo:

"Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua:

"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
 
Martha medeiros

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Amor as vezes é também distância, aprendi. Entendi, acima de tudo, do que sou feita, sei que provoco incômodo, não é tão fácil e nem tão frágil se aproximar, começa assim, como quem não quer nada e logo se mostra a que veio, não é fácil, nem mesmo tão bonito, por vezes, mas é intenso. Intenso demais. É por isso que amor é distância, agora entendo. Toda palavra doce proferida possui um efeito devastador, eu sei, porque são além, formam aquilo que é matéria. E de todas as desculpas que eu poderia pedir, até mesmo dar, prefiro ficar quieta, recolhida na minha, já que não faria diferença, o que vem de dentro é maior, o que sai é tão somente consequência. Talvez aprenda a lidar com isso mais pra frente, quando percebo que é a hora de me aproximar, quando é permitido, já que algumas tentativas falharam, não se preocupe, estarei atenta, um pouco ansiosa, só não deixarei de estar atenta. Nada te nego, nada te imponho, nada te transformo, não pense em descaso, mas é preciso ter um ponto certo, específico para adentrar justamente aquele campo magnético que te puxa para um centro formado por não-escapismos e sinceridade, mesmo nas mentiras, onde não é permitido fingir. Tem que se estar preparado, não é fácil, qualquer equilíbrio que não possa ser abalado é necessário. Talvez não entenda esse mal-estar, vai passar. Tenho certeza de que vai passar, mesmo que seja pra se perder e se achar somente no final. Deixe estar, você é incapaz de faze-la ir ou vir, você se foi, não para sempre, mas por agora e tudo isso te destruirá caso se aproxime demais. Eu sei, me contaram que é o suficiente por agora, você a vê, mas não a encontrará por completo (quando voltar).

terça-feira, 31 de agosto de 2010

"Perdi meu nome. Perdi o jeito de ser (...) não encontrei outro"

Caio F.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Once when...

Estar fora de si, simplesmente, porque não se soube voltar.
Juro, é dificil seguir quando se conhece sonhos melhores e quando a vida te dá um chance, talvez até mais, umas duas ou três, mas não mais que isso, de ele ser real. E tudo o que você é, não se encaixa, já que as outras pessoas estão tão mais inferiores do que antes. É assim, você ri, cumprimenta, senta perto, mas chega uma hora que elas não te agradam mais e já não se suporta estar perto, porque elas não tem a necessidade e nem capacidade de serem mais do que estão. E é necessário doação, é necessario loucura, é necessário um pouco de embriaguez, seja ela intelectual, espiritual, fisica, da maneira que for, é necessário ser mais do que se pode ver. Ninguém preenche. Falta mais do que tudo, espontaneidade, naturalidade, beleza. Voltar ao estágio anterior, eu não quero, nem ter que me adaptar, não seria possível, de qualquer jeito. Só que antes de partir, àqueles tempos me deram liberdade, àquelas pessoas me deram o que eu não tinha, eu ainda tenho, mas não tenho onde usar. Talvez seja um pouco desperador, mas especialmente hoje, um colo, um abraço, uma palavra faria qualquer diferença, um colo...


Hoje decidi fazer uma loucura, vou refazer seus passos, desgastar a minha mente até encontrar você, porque existe algo em você que me intriga, me joga numa eterna desconfiança do limite entre o real e as lembranças, não posso deixar você ir embora sem ao menos saber do que é feito. O que é essa vontade aqui dentro que não morre? Essa matéria estranha dentro do meu peito que me fez conhecer meus próprios limites, ultrapassar meus medos, me fez sentir liberdade. Vou pegar a minha mochila, sair porta a fora, vou tocar naquele teu endereço antigo e perguntar por você, ir aos meus lugares em que costumava ir, encontrar seus amigos, tudo isso até encontrar qualquer coisa, eu sei que vou encontrar. E quando olhar no fundo dos teus olhos, vou querer saber onde parou aquele dia em que eu com ciumes bobo esqueci do mundo quando notei que só tinha olhos pra mim, o modo como me dizia que eu estava muito perto de você e as muitas reclamações sobre a sua vida que eu acabava por fazer você rir. Não se esqueça também dos acontecimentos daquela noite que não ousamos contar para ninguém, acho que eles não entenderiam, também não importa, é nosso. Meu Deus, como você é lindo dormindo, mais ainda com a cara toda amassada reclamando por eu abrir a janela e deixar o sol entrar. Eu precisava te dizer muita coisa. Eu tinha admiração por você não esconder suas vontades, de mim, principalmente, nos últimos dias. Não estou sabendo recomeçar, poderia fingir, disfarçar, dissimular, mas não funcionaria, também não estou morrendo, ao contrário, o meu encontro com você foi o que me fez melhor, querer companhia melhor, exigir muita coisa melhor do mundo, eu sei disso, me fez sentir amor por aquilo que eu tinha tentado negar a vida toda, preenchi os dias com música, bem alta, cantando, ouvindo, dançando, quando saio na rua, está tudo em tão silêncio, parece que as pessoas são imitações de si mesmas, vejo articularem musculos, mas não as escuto, não é audivel, me sinto desnorteada, talvez por isso, não viva mais de jeito nenhum sem música, claro que sei, a leitura é importante, mas não é tão mais importante agora. Olha, se voltar, eu não vou prometer nada, nem me doar em excesso, nada disso, eu me confortaria em estar do seu lado, como tantas outras vezes, só isso, só queria cores de novo. Com música de novo. Com companhia de novo. Com embriaguez. Com intelectualidades. Com você. E mais nada.

domingo, 22 de agosto de 2010

A primeira coisa mais dificil de dizer do mundo .

- O que foi ?
- Nada, por que?
- Estou te achando estranha .
- Você sabia que eu estava gostando de você? Assim, de verdade.
- Por que ? Antes era de mentira ?
- Antes era por conveniência, carência, do que quiser chamar.

...

- Sabia que saudade é a oitava palavra mais difícil de traduzir do mundo?
- Não . Sério ? É o que você sente ?
- Só quando você vai embora.
- Eu não sei como é isso .
- O que? Saudade?
- Não, essa sensação de alguém ir embora , já que sou eu que vou embora da vida das pessoas , já morei em tanto lugar ...
- O meu coração está acostumado com esse entre-e-sai de pessoas , nisso somos totalmente diferentes e nos completamos, você está sempre indo embora e eu sou aquela que sempre vê partir.
- Engraçado isso .
- O que?
- A maneira da gente, como a gente se conhece, tudo..
- Tem razão.
- Se eu for embora você me espera ?
- De novo? Você pensa em ir embora?
- Não sei, ué . Talvez .
- Te espero, acho . Meu medo não é de você ir embora, nunca é, apesar de ter que preparar meu coração as pressas pra compôr tanta saudade.
- Ah ! Então, qual seria ?
- A de você não voltar e eu nem ter a chance de te dizer nada disso.

...

- Você ficaria comigo ? Do meu lado ? Comigo mesmo ?
- Claro, sempre .
- Você tem essa mania de morder o lábio ?
- Tenho , faz tempo já. Por que?
- É muito sexy .

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Tudo que fez foi me proteger de um perigo maior que sou eu.

Tenho impressão de que eu te pertubo muito e não aguenta mais a minha companhia. Tenho te carregado para todos os lados, te aperto, te beijo, te obrigo a me fazer carinho, tem vezes em que as minhas lágrimas escorrem e me sinto feliz por você estar aqui, mas as vezes tenho receio de que isso possa causar um efeito negativo em você, não sei, talvez fique enferrujado ou melancólico demais, mas quando a coisa aperta, eu fecho minhas mãos diante você e aperto com força, não sei se machuca, desculpa. Fico com você o tempo inteiro, acompanhar o que faço desde a hora em que acordo até a hora em que durmo deve ser um tanto chato, mas essa é a função que dou pra você, me proteger, me sentir, te sentir, ter a sensação de que tudo vai realmente ficar bem e que até agora conquistei um monte de coisa através/com/por/para você e não quero que vá embora, me apeguei tanto, mas acho que nunca te esqueci em casa, não nos momentos cruciais, pelo menos. Te liberto dessas tarefas todas na hora de tomar banho, aí você fica livre de mim por um tempo razoavelmente grande, quando te guardo dentro de um pote com a sensação de ser uma redoma pra ser a primeira coisa a ser pega no dia seguinte, sempre a primeira coisa antes de mais nada. E de tudo que você se tornou, um orgulho, uma felicidade, um respeito, uma saudade, uma liberdade, uma verdade, uma gentileza, um carinho, um amor, uma paixão, uma vontade, um desejo, uma amizade, uma lembrança... a última coisa que se tornou foi um enfeite.

A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos.

Tenho dito para bastante gente que sinto falta, saudade mesmo da conversa, dos abraços, mas daí acontece dessas pessoas aparecerem um dia e preenchem um dia inteiro com risadas, lembranças, esperanças e sonhos, mas deixam o final do dia como logo no começo, vazio. Tudo porque, talvez eu não queira assumir, que do que eu sinto falta mesmo é de você que não está aqui pra me sustentar, mas ao mesmo tempo está tão aqui pra me deixar cair.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Foram tantas as cartas mentais que escrevi pra você, ideias que ficam na cabeça achando o melhor jeito para te dizer algo, se é que existe a melhor maneira, se é que existe algo a ser dito. Não queria que soasse dramático ou melancólico em demasia. Mas queria sinceridade. E talvez, tome por base essas duas naturezas que você estava cansado de saber que eram as minhas. Na verdade, eu não sei o que escrever, sério, de todas as coisas que pensei, tenho um medo enorme do seu estado, da sua forma de lidar com o mundo por agora, não tenho noticias suas faz tempo e queria que soubesse o quanto me dói isso. Queria dizer tanta coisa, não sei se tenho liberdade pra tanto, da maneira que for, me propus a começar, eu vou terminar isso, levar até o fim e a única coisa que estaria em jogo, seria você. Mas até você já foi, não é mesmo? Da última vez que procurei por você,  eu reinvindiquei aquele Tiago que eu havia conhecido, o que se interessava em saber de mim, o que me ligava quando eu menos esperava pra ouvir a minha voz com o meu sotaque que acho tão irritante, pegava o celular escondido da mãe pra me mandar uma mensagem pra salvar um pedaço da minha noite quase madrugada e o que me escrevia cartas. E não quis dizer que esse menino tinha ido embora, se ele tivesse ido embora, eu deixaria você partir e ficaria só na minha memória com essas características interminaveis, cada dia eu descobria uma coisa nova em você e saber de você era tão importante pra saber de mim, mas esse menino se ocupou muito, eu sei, com problemas interminaveis, com magoas, alegrias, sensações novas, eu sei, sei atraves de outros, porque até nisso você deixou de me procurar e fui buscar outras distrações sem conseguir me desligar disso. Não, não quero de volta o que não tem volta, recordações são boas, claro, só que eu quero do meu lado e da maneira que for, esse menino com que eu aprendi tanto e nunca saberia o quanto. Você é uma parte insubstituivel que eu nem me dei ao esforço de colocar algo no lugar, não existe, será que você não percebe? Enfim, se resolver voltar, me procura, eu estou aqui, mas venha sem magoas, sem ressentimento, sem as suas pedras nas mãos como na última vez, se não souber voltar, me manda noticias, mas não se perde, por favor. E é nessa parte que eu suplico com as lágrimas. As suas fotos não serão o suficiente pra eu fazer parte de um mundo que tenho certeza de que foi meu, muito meu, da qual eu existia sem ter que invadir, me fazer existir por inconveniencia. Alías, desculpa se estou sendo inconveniente, não era o caso, nem mesmo um pedido de desculpas, mas eu estendo a minha mão na tentativa de alcançar a sua que nem mais vejo se está esticada também ou a recolheu num puro cinismo. Sua grosseria não me espanta, o que me espanta é essa ausência que ninguém dá fim, essa sua nova imagem de mim que desistiu faz tempo. Eu te quero muito bem, te quero claro, bonito como eu lembro e queria tudo isso do meu lado, ainda que não seja possivel, guarda as cosias boas e se cuida.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Deux.

Ele:
Às vezes fica muito pesado carregar nosso próprio corpo por aí...Nem pesa tanto, o que pesa mais é a cabeça, cheia de coisas, lotada de borboletas. às vezes a gente precisa deixar algumas saírem de lá. Mas lembra, sem contar pra ninguém. Se disser que andam saindo borboletas da sua cabeça, ou da minha, é capaz de mandarem internar a gente.
 
Eu:
Eu espero mesmo que me internem, daí meu corpo vai ter paz, já dizem que eu sou louca mesmo e é nessa hora que eu finco os dois pés no chão, encaro o mundo no olho e digo com todas as letras: "sim, eu sou louca, minha loucura é a total prova da minha sanidade, ela não me deixa poluir por essa sujeira das pessoas, eu sou louca por acredito em amor pra vida toda, acredito na Lis a cada dia que passa, acredito que hoje o dia está uma merda, mas amanhã ele vai ser diferente, e acredito sobretudo, na boa vontade das pessoas, mesmo aquelas que julgam te-la perdido. Eu sei que a minha loucura me joga nesse estado de agora em que não quero/posso/consigo sair de um poço instaurado na minha cama, mas é ela também que tantas vezes me jogou e tantas vezes me jogará numa beleza de mundo descomunal, sobrehumana que muita gente desconhece. Eu tive a sorte de ter conhecido anjos, visitado o paraíso, conhecido revolucionários e ter mantido o contato do olho, ainda que hoje eu também conheça o outro lado, mas acredito que é só um passe pelo real, pra eu voltar com toda força à minha loucura de todo dia. E me internar não é sequer ter controle sobre a minha loucura ou sanidade, mas é assumir pra si uma culpa, uma incapacidade por não saber ser de outro jeito. Na minha loucura eu me reinvento todos os dias, sou rainha, sou puta, sou anjo, sou provocadora, sou linda, sou timida, sou o que combinar com a personalidade do dia"

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quem feriu meu coração fui eu mais ninguém (8)

"Faz quatro dias que eu não durmo, tenho medo de pegar no sono e perder a hora em que você vem, porque acredito muito que existe a hora em que você vem. Não, mentira, esquece. Tenho medo de dormir e começar a ver você em todos os lugares e acordar com aquela saudade incontrolavel que até agora tenho conseguido controlar. Também não é nada disso, desde que conheci tem alguma coisa em mim que não me deixa esquecer esse gosto pela vida, absorção de tanta beleza e a partir do momento que me vi sem você nada tem tanta graça, as pessoas são tão comuns, ainda não acostumei meus olhos com tamanha naturalidade, não sei. Acredito agora que também não sei se ainda é tudo isso ou se uma mistura de tudo, mas tô sentindo a sua falta. Não faz mal, vai passar junto com essa insônia louca, mas vai passar."

Warning Sign - Coldplay

Um sinal de alerta

Perdi a parte boa quando me dei conta
Comecei a observar e a bolha estourou
Comecei a procurar por desculpas

Venha

Tenho que te contar em que estado estou
Tenho que te contar em meus tons mais altos
Comecei a procurar por um sinal de alerta

Quando a verdade é, eu sinto sua falta
Sim, a verdade é, que sinto tanto sua falta

Um sinal de alerta
Você voltou para me assombrar e eu me dei conta
De que você era uma ilha que eu ignorei
E você era uma ilha a ser descoberta

Venha
Tenho que te contar em que estado estou
Tenho que te contar em meus tons mais altos
Comecei a procurar por um sinal de alerta

Quando é a verdade, eu sinto sua falta
Sim, a verdade é, que sinto tanto sua falta
E estou cansado e não deveria ter deixado você ir

Então eu rastejo de volta para teus braços abertos
Sim eu rastejo de volta para teus braços abertos
E eu rastejo de volta para teus braços abertos
Sim eu rastejo de volta para teus braços abertos

terça-feira, 27 de julho de 2010

Só pra dizer que a saudade é enorme.
e nenhuma outra cara tampa.

sábado, 24 de julho de 2010

E o outro lado?

Eu não suportaria a sua indiferença, eu teria todos os dias que reinventar você em outros sorrisos, em outras histórias, em outros olhos castanhos e não teria sucesso, porque já é desde o dia em que te vi uma parte de mim que me assusta, que me conforta, que me envaidece, da maneira e do dia que for, uma parte imputavel de mim. E como seria construir um personagem sobre um coração em pedaços, missão impossivel. Prova disso foram esses dias terrivelmente vazios com a cabeça e os olhos cheios e três noites mal dormidas. Não me contentei em ficar olhando o mundo, esse mesmo imundo do lado de fora, em que todo mundo ri, todo mundo é louco o suficiente pra suas próprias verdades, eu tive que ir lá conferir, rodar na roda com eles, minha curiosidade me matou de uma maneira devastadora, eu morri nesses últimos dias em silêncio, com uma culpa, sem pedir socorro, talvez um gesto de covardia misturado com um ato de vergonha na cara, da maneira que for, eu me lavei sem me sentir limpa, me escondi sabendo que estava exposta, chorei sem me sentir vazia, tanta contradição que não suporto, tudo porque eu mesma tinha entrado em contradição. Minhas palavras se perderam como todo o resto, rumo previsivel e eu detesto ser previsivel, apesar de não estar mais do que isso. Da forma que for, o seu telefonema mais uma vez me salvou, depois que você desligou não sei se deu tempo pra perceber o meu estado leve, alegre, aliviada, você me fez até rir, depois de três dias...Eu errei feio, com a gente sobretudo, e já expliquei que não foi a minha intenção e também, não me esqueço a partir daqui, só que hoje você estava a minha frente e com o braço esticado em direção ao chão, você me levantou, me olhou nos olhos não com a piedade de todos os outros, mas com a firmeza de quem sabe que ficar no caminho é perda de tempo. Eu substimei o meu amor, eu temi ter perdido pra sempre, e maior do que o erro em si, as consequencias que ele podia ter pra você me doeu mais que qualquer coisa. Porém, não é tudo, se eu acordar amanhã com o gosto amargo de uma falha que não tem volta, eu vou sim querer desistir de novo, vou querer te evitar sabendo do enorme mal que lhe causo e talvez nos seus braços eu ainda me encontre sem graça, sem jeito, calada, inconformada da maneira errada como eu errei feio, ainda assim, não faça cerimônias, se precisar me dizer, diga. Eu estarei ouvindo, ainda que pareça que não.




"Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso. Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura. Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo. Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna.”

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Eco.

Eu não estou bem.
Estou me afundando naquilo que nem eu mesma sei, me afundo cada vez mais nessas águas sujas que me oferecem como solução, não consigo sair disso e peço sua mão, ao invés de me mostrar saída, você me vê assim frágil em cima de mim mesma e se contenta em ver, só ficar vendo, em me olhar e reprovar como se fosse melhor do que eu. Talvez seja mesmo e sua ajuda seja tão pouca merecedora do que estou agora. De qualquer forma, estou te pedindo ajuda e você também se afunda cada vez mais nessa coisa egoísta que é você mesmo. Não, não é pra se salvar, nem autopreservação, é qualquer coisa mesquinha maior que você mesmo e isso tem me matado, me confundido mais que outra coisa, eu sei, eu vou dar com a minha cara lá fora, eu vou me acumular com o veneno que eu mesmo criei, mas eu nunca, nunca vou esquecer que um dia eu pedi, te pedi um braço, te pedi um colo, te pedi um abraço, um pequeno gesto que me pudesse ter salvo e não salvou. Hoje, sou eu que peço pra perder a memória enquanto durmo... É, mãe, não se preocupe se eu não chegar, eu já olho pra trás e não tem ninguém.

sábado, 17 de julho de 2010

Entrei num estado de gostar de você.
Reijeitei um beijo seu, mas aceitei todo o resto.
Se ontem o dia estivesse bonito, não teria valido tanto a pena.
É justamente nisso que eu quero me afundar.
Na curva do teu ombro, na mistura dos teus cheiros, no contorno da tua mão que passa devagar no meu rosto, nos teus olhos que expressam tudo o que você precisa dizer, você que sorri, que me embala dentro do teu abraço tentando parar o frio e nem disfarça na frente de todo mundo o que seu beijo não tem medo de demonstrar, você que me faz esquecer o tempo, o mundo, os sentidos, você que me provoca.
E eu não descanso, não descanso até levar isso até o final,
quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar, certo?

domingo, 11 de julho de 2010

Justifica essa minha loucura?

A mente que suplica por um esvaziamento, de informações, sobretudo. Talvez fosse necessário mais vista, mais gente, mais um pouco de tudo que exige gesto, tempo, menos mente, ficar perto pela necessidade de estar perto. Mas nem falta as pessoas fazem mais. Não seria ruim sentir saudade se fizesse o menor sentido, não faz. Suplico um abraço, peço carinho, reforço apelos contradizendo o dito acima, mas o gesto confirma logo em seguida, não faria qualquer diferença, não aliviaria, não me salvaria. Descobri que meu corpo comporta cansaço, exaustidão, falta de apetite, sono, insônia, sonhos, tudo sem reclamar, sem precisar parar, quase não percebo, me perco em noções de tempo quando tudo é igual. O problema da naturalidade é esse, ficar jogado nesses dias iguais esperando que as coisas sejam diferentes e não conseguir sair disso por mais que se esforce, e eu me esforço. Desde que aprendi a ser observada por aqueles olhos que não cansam, por aquela beleza incontestavel, por uma naturalidade que me invandiu de tal forma que seria necessário ser totalmente contra os meus principios pra sair dessa, não sei mais como agir, o que buscar. Tanta subjetividade pra nada, disperdiçada em tempos que eram outros que não o de agora. No entanto, não era amor, era um gostar do sentido que as coisas haviam tomado, um começo de atalho que apareceu no meio do caminho sem a necessidade de procura. Uma simplicidade que somente duas mentes complexas demais suportavam. E mais ninguém. Você tinha razão, era por sua causa. Perigo é eu me esconder em você. Justifica essa minha loucura?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O infeliz.

"Se você me vê como um porto seguro
Exclua essa idéia dessa mente
Não por que não gosto de você
Mas sim por ser egoísta em relação a minha dor


O niilísmo tem crescido em minha vida quase exponencialmente

Me tenha como um bom amigo
Deixe-mos ser amantes ao acaso

Porém não me deixe saber que ainda me deseja.
Pois não tenho pena das pessoas que me amam

A falta de um rotina segura e calma
Tem transformado minha vida em um caos
A poesia me assombra e a música me acalma

Porém música é poesia .

Logo,

A música me assombra e me acalma.

Um paradoxo.

Minha vida gira em torno da música

Logo,

Minha vida é assombrosa e calma.

Não queira isso para você.
A não ser que esteja disposta a conhecer
Um Ourives das jóias de um anjo caído
Que modela sua arte a partir de prótons que agora são neutrons;
E os poucos Elétrons que restaram... Se demitiram."
 
Naamã.

terça-feira, 6 de julho de 2010

A pessoa mais idiota do mundo .

Eu vou ficar aqui jogada querendo não ter forças pra mais nada e que me deixem! Se não forem cuidar das minhas dores, se vão se jogar nesse eterno egoismo que são, prefiro que me deixem vivendo somente por e para essas dores. As palavras... eram todas falsas, todas bonitas, mas não faziam o menor sentido, quando a dor lateja, as tantas palavras se perdem e junto com elas, as pessoas. Não faz mal, pelo menos, não mata, quem me dera, de verdade. Mostrei a minha face que chora e ainda assim, carente de toda e qualquer piedade, ousou rir de mim, de me deixar de lado, não aguento mais, eu juro. Todos meus esforços são tão inuteis, grande imaginação a minha que achava que podia deixar as coisas um pouco mais suportaveis sendo assim tão boba, mas eu havia me esquecido do grande papel de palhaço que anima a platéia. E eu que julgava não haver engano, dei o pulo mais torto e errei feio, acreditei ter conhecido uma exceção, mas não passava de uma raposa igual a todas as outras, excluindo o fato de que essa me machucou mais que qualquer outra. E não está tudo bem. Sem previsões. Só queria que me desenhassem um carneiro...

domingo, 4 de julho de 2010

Não me negues, minha sede é clara.

Posso apoiar toda minha excessiva carência em cima de você? Eu juro que não faço mais do que combinamos, não dou um passo além, é que hoje preciso tanto tanto tanto de uma atenção sua, logo sua, pra jogar conversa fora, bolar teorias, inventar a nós mesmos num espaço e tempo inexistente. Juro até mesmo que se você não quiser me dizer ou mostrar nada, eu me contento em só olhar, sem toque, sem invasão, sem regalias, só olhar fixamente e tentar decifrar cada parte sua que desconheço. Depois disso você faz o que quiser, se quiser, eu te deixo, só permite perceber que eu te desejo, de maneira inteira, aberta, ainda que incompleta.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

(In)felicidade é um dom.

E se eu te contar que estou disposta?
Do fundo desse buraco instaurado aqui ou de qualquer coisa que me lembre como era bom esse gostar.
Meus olhos se acostumaram a te admirar, a ter tamanha beleza, ao seu toque, a suas convicções, a uma bagunça interna que me fascina tanto e me joga numa bagunça maior do lado de dentro.
O acaso me exige mais do que suporto e me aguento dessa maneira.
Eu estou disposta.
Mas se é justamente a ausência de um porto, a insegurança de não te ter a qualquer momento, esse caos, essa não-procura, o prazer mais egoísta, justamente desse jeito, que me convence.
Talvez eu esteja louca de querer isso pra mim, mas é um anjo caído, torto torto que tem me feito querer qualquer diferença. Tenho sede do teu niilismo, me identifico no teu descomprometimento com a verdade, me componho na tua voz, sou cumplice na morte de Narciso... Só que eu também sei quanto custa as asas de um anjo caído. Mais do que estar disposta a conhecer um ourives das jóias de um anjo caído, estou disposta a tê-las pra mim e pagar o preço, ainda que alto, por isso.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Parte I

E eu vou me concentrar em qualquer coisa, mas qualquer coisa que não esse frio. Porque se eu me deixar levar, o vento vai trazer consigo não só esse frio pela janela, mas a sua imagem, a sua voz procurando a vontade de querer me aquecer naquilo que tomo como você. E eu não posso. Meu coração anda tão fatigado, tão inutilmente despedaçado tentando ser inteiro, mas se doando assim o tempo todo cada hora pra alguém, pra necessidade do outro, um pedaço de cada vez, as vezes, todos ao mesmo tempo. Não tenho me comportado mais, por enquanto tem me machucado, me incomodado e de todas as formas que eu sei lidar com isso, eu não posso. Vou me concentrar com todas as forças, que não são muitas, nos meus trabalhos, nos meu estudos, aprender uma nova língua, ocupar meu corpo e minha mente de maneira absoluta pra não existir o fator necessidade. E ainda que eu não consiga nada disso, o esforço vai me fazer bem, eu sei, pelo menos até a proxima queda. Não quero cair, te juro. Só que é inevitável, pensar em você tem sido inevitavel. E presta atenção, eu não vou fazer de você uma valvula de escape, como uma cura pra todos os males que me afrontam agora, eu não posso, não vou e não quero. Mas não tem prestado atenção no quanto me faz bem, no quanto suas caras quase sérias me fazem rir que nem uma tonta. Meu corpo não comporta tanta beleza, tanta coisa boa num só, sei que não, por mais que tentasse, seria um esforço desnecessário, pela vontade torta de ter você, eu vou ficar um tempão aqui parada esperando passar, ocupando meus olhos, fechando minhas mãos diante do peito como num soco que darei no ar sem saber que atinjo a mim mesma, que aquela raiva disparada contra ninguém afeta o que diz respeito a mim, sem que você saiba também.  (cont...)