quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A minha vontade era correr até os braços dela, deitar no colo e chorar até ela saber de tudo, tudo mesmo, até ela me dizer alguma coisa boa, me pegar no colo como na infância e ficar mais leve, menos rancorosa com as coisas, mas já é tarde. Ela até me daria colo, mas diria que é da vida ser assim, ia falar em Deus - e não me interessa aqui se acredito ou não, mas o que eu sinto é humano demais hoje - ela diria que é errado fazer tanta mais coisas que na época dela não existiam, diria que é necessário ser menos boba, mais pé no chão, ela diria uma porção de coisas que não valeriam o colo. Ela diria que tudo é bonito na literatura, que na vida não funciona, não tem praticidade. E eu precisava tanto que ela me entendesse. Não entenderia. Eu decidi, amanhã tiro o dia de férias. Não quero ver ninguém, eu quero ver o mar, quero fechar meus olhos e ter a ilusão, mesmo que por um segundo de que vai ficar tudo tranquilo de novo. Ainda que seja mentira. Mãe, fala comigo... quando eu sei ouvir.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Só nos sobrou do amor a falta que ficou .

Ela era tudo que eu tinha. Ela era o tipo de menina que você se apaixonava só de se aproximar, eu me aproximei demais, consegui ler por muito tempo o pouco que ela me permitia, pouco para ela, porque para mim era muito. E tudo tão intenso, tão confuso e sincero. Ela tem uma sinceridade assustadora, devastadora, ela é dona de si mesmo quando desconhece o medo do outro, mas eu a deixei ir. Não que ela quisesse ir embora, ao contrário, ela lutou muito pelo espaço dela que assumia com tanta prioridade, eu que não sabia lidar com o muito que ela era. Me perdi. Sem o abraço, o cheiro dela, sem o beijo dela, eu me perdia e ando perdido depois de tanto ter feito para que me deixasse, mesmo que não proposital. Eu era muito pra ela também, eu sabia, só que a minha necessidade dela era tamanha que eu não confessava e sofria aos quatro ventos para que ela sofresse também, essa coisa absurda de chamar atenção a qualquer custo pra ter metade da atenção que já era minha. Foi idiota, eu sei. Eu a magoei, matei cada pedaço dela pouco a pouco de tantas maneiras diferentes, tudo porque eu não sabia lidar com o muito que ela é. Nunca me confessou suas dores nem rompimentos em relação a mim, eu a testava frequentemente, achei que ela fosse forte, deveria saber o quanto dela morreu diante ao pouco que eu fui. O engraçado é que ela não morria, não na minha frente, ela voltava inteira, seus olhos eram atentos a mim como nenhum outro e eu teimando em olhar para o lado de vez em quando.
Ainda quando a vejo, me pergunto como depois de tantos tombos, ela se mantem de pé. Forte toda vida, ela perdeu muitas outras coisas, pessoas, tudo o que não sabia lidar com o que ela era. Talvez eu não perceba o quanto de medo ela guarda dentro dela, ou simplesmente, não quero ver, teria que lidar com tudo de novo. Eu a amava. Só não soube lidar com o amor, a entrega dela. Ela era responsável pela minha felicidade, esta que eu esperava aparecer na minha porta de uma vez só como se fosse possível, como se fosse verdade... sem me dar conta de que ela era minha, conquistada todos os dias, pouco a pouco, as vezes no braço, mas era gratificante ser minha, porque eu a dizia e a fazia minha, não existia outra. As coisas desandaram muito, eu não era o mesmo, ela era maior. Nunca mais soube o que ela sentia, o que a fazia rir, porque ela chorava, se ela chorava, o que ela achava da guerra do mundo aqui fora ou o que andava fazendo nos dias de muito sol, nada, eu não soube de mais nada, tudo porque... eu não tive a coragem de.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ao único homem ...

Não tinha certeza quantas vezes é possível se apaixonar por uma mesma pessoa em uma única existência, se é que existe número exato para isso, mas sabia que só nessa semana havia sido três. E sentiu-se feliz. Ainda me confundo na tentativa de tentar descrever exatamente o que Artur significava, seria ele um anjo ou um rei? Não sabendo ao certo, decidi me confortar com a certeza de que o conhecia de outras muitas vidas, vidas passadas e tornei às minha crenças, que nunca foram feitas para acreditar nisso, e misturei-as com a minha sensibilidade que também não dizia que não, não sei na verdade se acredito, acho que acredito mesmo é no bem. E quando querem te fazer o bem, não importa no que acredite, conseguem. É claro, o outro lado que chamaríamos de mal também tem o mesmo efeito, mas isso não é importante. O importante aqui é aquela velha sensação de que Artur seria o único capaz de compreender o que sinto sem dizê-lo, e melhor, seria capaz de compreender a hora exata de que sua ausência grita, ele a ouviria ao longe e sem pensar duas vezes, apareceria a minha frente perguntando o que desejo, me pegando pela mão sem eu mesmo poder ver seu rosto, e estaria pronto também a me dizer sem medo tudo o que seria necessário ouvir, o que ninguém mais se atreveria, com a magnifica diferença de que suas palavras soariam tão doces, tão maleaveis e gentis, mas não menos efetivas que qualquer outra, ao contrário. Ele sabia se impôr como um rei, ser consolador como um anjo e justo com o mais genuino ser humano, ainda não identifiquei a totalidade do que o comportava. Sua voz melodiosa como uma música, seus olhos piedosos como uma mãe e suas mãos tão firmemente acolhedoras, eu queria ser maior, me sentia maior na presença dele, quase como uma pessoa comum que se ajoelha diante dos olhos de uma divindade e alivia todos os seus pecados, era bom, era bom ele estar sempre ao meu lado, ainda que o visse maior, bem maior. Artur me ouviu, me foi paciente, salvou minhas noites como em tantas outras vezes, no fundo, acho que ele mesmo sabia disso. E diante de tanto sentimento confessado, tanta liberdade de sentir, Artur começou seu diálogo com uma pergunta:
- Tem certeza de que é isso que você quer?
Sem pensar duas vezes, respondi com a maior tranquilidade do mundo, tranquilidade que só ele conseguia me dar sem o medo de haver um julgamento:
- É isso que eu quero.
Achei que Artur me faria mudar de ideia, dizer que o que eu queria era um tanto absurdo e que não queria me ver quebrar a cara de novo, fazendo dessa ultima revelação mais um fato que uma probabilidade, mas ele era diferente de todos os outros, por vez, me disse:
- Olha, meu anjo, eu não quero que você sofra de novo, não quero isso nunca, mas se é da sua vontade tamanho desejo, eu traria pra você, buscaria até estar bem diante das tuas mãos e faria isso por você.
Eu sabia que não eram palavras soltas, por mim ele fez muito e faria muito mais, mas era a minha luta, a minha determinação o que diria se era merecimento meu ou não. E dizendo a ele isso, eu sei que entendeu e ainda assim ele me disse:
- Você tem razão, ninguém vai trazer ele pronto pra você, na sua mão. E todas essas guerras que terá que travar, você vai ver que elas valerão muito mais o objeto do que se tivesse sido entregue em mãos. À você, eu só desejo boa sorte. Mas o que te detem é medo?
De repente, me dei conta de que meu medo não era em relação as minhas vontades, mas das armas não serem o suficiente para durar uma batalha inteira, ou se durar, não chegar a grande guerra.
Contemplando-se de qualquer coisa como sabedoria, ele me fez sentir grande de novo, me colocou em um lugar que eu não sei se me pertence, mas que assumi com certa grandeza e atitude:
- Eu não duvidaria das tuas armas, elas são tão poderosas quanto você e não tenho duvidas que sabe disso, se o seu medo era esse, ele acabou aqui e agora, as tuas armas são grandes, um tanto maior quanto das outras pessoas a sua volta, quem vai decidir a proporção na qual elas serão usadas é você.
Não me coube mais do que comportar todas informações e agradecer a esse menino grande que me ensinou a correr atrás de todas elas e a manuseá-las. E me tomou pela cintura me pondo a sua frente, me olhou na curva da verdade dos meus olhos e reafirmou em outras poucas palavras o que me havia dito, mas de uma maneira nova, de uma maneira que me contemplou como rainha, anjo, divindade, não sei, aquela criatura estranha que eu reconhecia nele, mas não sabia identificar.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A Grande Rainha .

Foi atrás dele pronta a dizer tudo, dizer não, mostrar, o que havia escrito para ele nos últimos tempos em que conviveu com sua ausência, sabia justamente onde encontrá-lo, ao entrar, parou um pouco e teria ficado tonta e confusa se não tivesse respirado bem fundo e decidido ir em frente, com o coração inquieto e as mãos trêmulas, mas nada disso a deixava menos decidida. Ao mostrar tamanho carinho, paixão, saudade e um pouco de amor - digo um pouco, porque não estava tão pronta assim a assumir o que sentia de cara - achou que ele se valeria de ao menos um sorriso para ela, uma retribuição que valeria o sacrificio de te-lo procurado. Nada. Menos que nada, ele a ignorou como se não tivesse lido, não tivessem vivido nada do que estava proposto ali, ela deu de costas, ainda tremendo, com medo de olhar para trás, com uma vontade enorme de voltar e dizer como foram esse últimos dias com ele em todas as outras pessoas, em todas as outras situações e como tinha descoberto a magnitude do que sentia, depois de desmontar outros tantos sentimentos que a afundaram naqueles tempos, porém, era tarde. Se apossando do tempo, ela decidiu partir, o mesmo tempo que o trouxera, levaria ele embora e nem era necessário fazer-se de forte, ela estava decidida, havia amadurecido nos últimos acontecimentos, orgulhava-se de não ter derramado uma lágrima sequer por nada, nem pelos amigos saudosos, nem pela confusão em casa, nem por ver tudo se perdendo no que não era ela, poderia dizer que finalmente, ela havia aprendido a ser forte, se virar e a apanhar da vida de pé, cabeça erguida. Ela se equiparava as sacerdotisas de Avalon, na qual, eram treinadas para não demonstrarem nada além de uma aparência calma, confortável, sem expressões de susto ou medo, suportavam o medo, o frio e a fome sem reclamar, quase uma rainha. Uma vez que chegou em casa, o cansaço bateu e o acharia normal se não fosse a dor que sentia começando aos poucos por seu corpo, de baixo para cima, com as pernas um pouco desajustadas, a coluna que parece ter carregado algo muito pesado e seus braços um tanto molengos, sabendo que não conseguiria portar-se de pé, ela deitou e se cobriu com certa dificuldade ao tentar se esticar um pouco para pegar a coberta. Por instantes, concentrou-se nas dores de fora, no que ia acontecendo lentamente ao seu corpo durante toda aquela descarga de adrenalina e cansaço acumulado de tempos passados. Seus olhos pesaram, mas não era sono, abateu-lhe o medo de entregar-se a certos delirios, imagens ou qualquer outra situação interior, que ele tinha bagunçado sua vida era fato, sua mente também, mas o seu corpo, era inaceitavel. Inaceitavel ou não, ela tinha que se conformar que de qualquer maneira, seu corpo já era dele, era dele antes mesmo de tomar posse, era dele fazendo-na mulher, era dele marcado na saudade... e se entregou naquela febre que não cessava. Seus delírios eram mais lembranças do que projeções de pessoas ou situações não existentes, mas ainda assim, se misturavam. Não tinha mais forças para nada, mas não se entregou, decidiu levantar devagar, se apoiando no que havia a frente e desengonçada, tomou a coragem de se lavar mesmo que para depois se atirar na cama de novo e tornou a se comparar àquelas sacerdotisas da Ilha sagrada de Avalon que após terem visões sobre o futuro, sobre determinadas situações que nenhum homem pudesse prever, se sentiam cansadas, exaustas e por fim, doentes. Chegou a achar intermináveis aquelas lamas e brumas que cercavam tal ilha misteriosa, queria tudo claro de novo e tão real quanto pudesse ser. Querendo ser nobre e rainha, dona das próprias terras e entregar seu destino a deuses e deusas, achou prudente esperar o tempo, não esse que era o de todos os outros, mas o que se passava nas terras de Avalon, esse sim era devastador em si só e voltando-se à magia, aos sacrificios e ao mistério, lembrou que nessas mesmas terras em que procurou abrigo, ainda que coroada rainha de si mesmo, conheceu um rei - rei Gwyndion- cuja espada era sua sabedoria e sua mão a justiça, fechou os olhos e descobriu-se menina em seu colo. Mais uma vez.

domingo, 5 de setembro de 2010

Strip-Tease

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum.
Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender. Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares.

Quero que você me escute, simplesmente. Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes. Primeiro tirou a máscara:



"Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância:



"Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado:

"Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou". Retirava o medo:

"Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua:

"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
 
Martha medeiros

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Amor as vezes é também distância, aprendi. Entendi, acima de tudo, do que sou feita, sei que provoco incômodo, não é tão fácil e nem tão frágil se aproximar, começa assim, como quem não quer nada e logo se mostra a que veio, não é fácil, nem mesmo tão bonito, por vezes, mas é intenso. Intenso demais. É por isso que amor é distância, agora entendo. Toda palavra doce proferida possui um efeito devastador, eu sei, porque são além, formam aquilo que é matéria. E de todas as desculpas que eu poderia pedir, até mesmo dar, prefiro ficar quieta, recolhida na minha, já que não faria diferença, o que vem de dentro é maior, o que sai é tão somente consequência. Talvez aprenda a lidar com isso mais pra frente, quando percebo que é a hora de me aproximar, quando é permitido, já que algumas tentativas falharam, não se preocupe, estarei atenta, um pouco ansiosa, só não deixarei de estar atenta. Nada te nego, nada te imponho, nada te transformo, não pense em descaso, mas é preciso ter um ponto certo, específico para adentrar justamente aquele campo magnético que te puxa para um centro formado por não-escapismos e sinceridade, mesmo nas mentiras, onde não é permitido fingir. Tem que se estar preparado, não é fácil, qualquer equilíbrio que não possa ser abalado é necessário. Talvez não entenda esse mal-estar, vai passar. Tenho certeza de que vai passar, mesmo que seja pra se perder e se achar somente no final. Deixe estar, você é incapaz de faze-la ir ou vir, você se foi, não para sempre, mas por agora e tudo isso te destruirá caso se aproxime demais. Eu sei, me contaram que é o suficiente por agora, você a vê, mas não a encontrará por completo (quando voltar).