quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A Grande Rainha .

Foi atrás dele pronta a dizer tudo, dizer não, mostrar, o que havia escrito para ele nos últimos tempos em que conviveu com sua ausência, sabia justamente onde encontrá-lo, ao entrar, parou um pouco e teria ficado tonta e confusa se não tivesse respirado bem fundo e decidido ir em frente, com o coração inquieto e as mãos trêmulas, mas nada disso a deixava menos decidida. Ao mostrar tamanho carinho, paixão, saudade e um pouco de amor - digo um pouco, porque não estava tão pronta assim a assumir o que sentia de cara - achou que ele se valeria de ao menos um sorriso para ela, uma retribuição que valeria o sacrificio de te-lo procurado. Nada. Menos que nada, ele a ignorou como se não tivesse lido, não tivessem vivido nada do que estava proposto ali, ela deu de costas, ainda tremendo, com medo de olhar para trás, com uma vontade enorme de voltar e dizer como foram esse últimos dias com ele em todas as outras pessoas, em todas as outras situações e como tinha descoberto a magnitude do que sentia, depois de desmontar outros tantos sentimentos que a afundaram naqueles tempos, porém, era tarde. Se apossando do tempo, ela decidiu partir, o mesmo tempo que o trouxera, levaria ele embora e nem era necessário fazer-se de forte, ela estava decidida, havia amadurecido nos últimos acontecimentos, orgulhava-se de não ter derramado uma lágrima sequer por nada, nem pelos amigos saudosos, nem pela confusão em casa, nem por ver tudo se perdendo no que não era ela, poderia dizer que finalmente, ela havia aprendido a ser forte, se virar e a apanhar da vida de pé, cabeça erguida. Ela se equiparava as sacerdotisas de Avalon, na qual, eram treinadas para não demonstrarem nada além de uma aparência calma, confortável, sem expressões de susto ou medo, suportavam o medo, o frio e a fome sem reclamar, quase uma rainha. Uma vez que chegou em casa, o cansaço bateu e o acharia normal se não fosse a dor que sentia começando aos poucos por seu corpo, de baixo para cima, com as pernas um pouco desajustadas, a coluna que parece ter carregado algo muito pesado e seus braços um tanto molengos, sabendo que não conseguiria portar-se de pé, ela deitou e se cobriu com certa dificuldade ao tentar se esticar um pouco para pegar a coberta. Por instantes, concentrou-se nas dores de fora, no que ia acontecendo lentamente ao seu corpo durante toda aquela descarga de adrenalina e cansaço acumulado de tempos passados. Seus olhos pesaram, mas não era sono, abateu-lhe o medo de entregar-se a certos delirios, imagens ou qualquer outra situação interior, que ele tinha bagunçado sua vida era fato, sua mente também, mas o seu corpo, era inaceitavel. Inaceitavel ou não, ela tinha que se conformar que de qualquer maneira, seu corpo já era dele, era dele antes mesmo de tomar posse, era dele fazendo-na mulher, era dele marcado na saudade... e se entregou naquela febre que não cessava. Seus delírios eram mais lembranças do que projeções de pessoas ou situações não existentes, mas ainda assim, se misturavam. Não tinha mais forças para nada, mas não se entregou, decidiu levantar devagar, se apoiando no que havia a frente e desengonçada, tomou a coragem de se lavar mesmo que para depois se atirar na cama de novo e tornou a se comparar àquelas sacerdotisas da Ilha sagrada de Avalon que após terem visões sobre o futuro, sobre determinadas situações que nenhum homem pudesse prever, se sentiam cansadas, exaustas e por fim, doentes. Chegou a achar intermináveis aquelas lamas e brumas que cercavam tal ilha misteriosa, queria tudo claro de novo e tão real quanto pudesse ser. Querendo ser nobre e rainha, dona das próprias terras e entregar seu destino a deuses e deusas, achou prudente esperar o tempo, não esse que era o de todos os outros, mas o que se passava nas terras de Avalon, esse sim era devastador em si só e voltando-se à magia, aos sacrificios e ao mistério, lembrou que nessas mesmas terras em que procurou abrigo, ainda que coroada rainha de si mesmo, conheceu um rei - rei Gwyndion- cuja espada era sua sabedoria e sua mão a justiça, fechou os olhos e descobriu-se menina em seu colo. Mais uma vez.

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