sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ao único homem ...

Não tinha certeza quantas vezes é possível se apaixonar por uma mesma pessoa em uma única existência, se é que existe número exato para isso, mas sabia que só nessa semana havia sido três. E sentiu-se feliz. Ainda me confundo na tentativa de tentar descrever exatamente o que Artur significava, seria ele um anjo ou um rei? Não sabendo ao certo, decidi me confortar com a certeza de que o conhecia de outras muitas vidas, vidas passadas e tornei às minha crenças, que nunca foram feitas para acreditar nisso, e misturei-as com a minha sensibilidade que também não dizia que não, não sei na verdade se acredito, acho que acredito mesmo é no bem. E quando querem te fazer o bem, não importa no que acredite, conseguem. É claro, o outro lado que chamaríamos de mal também tem o mesmo efeito, mas isso não é importante. O importante aqui é aquela velha sensação de que Artur seria o único capaz de compreender o que sinto sem dizê-lo, e melhor, seria capaz de compreender a hora exata de que sua ausência grita, ele a ouviria ao longe e sem pensar duas vezes, apareceria a minha frente perguntando o que desejo, me pegando pela mão sem eu mesmo poder ver seu rosto, e estaria pronto também a me dizer sem medo tudo o que seria necessário ouvir, o que ninguém mais se atreveria, com a magnifica diferença de que suas palavras soariam tão doces, tão maleaveis e gentis, mas não menos efetivas que qualquer outra, ao contrário. Ele sabia se impôr como um rei, ser consolador como um anjo e justo com o mais genuino ser humano, ainda não identifiquei a totalidade do que o comportava. Sua voz melodiosa como uma música, seus olhos piedosos como uma mãe e suas mãos tão firmemente acolhedoras, eu queria ser maior, me sentia maior na presença dele, quase como uma pessoa comum que se ajoelha diante dos olhos de uma divindade e alivia todos os seus pecados, era bom, era bom ele estar sempre ao meu lado, ainda que o visse maior, bem maior. Artur me ouviu, me foi paciente, salvou minhas noites como em tantas outras vezes, no fundo, acho que ele mesmo sabia disso. E diante de tanto sentimento confessado, tanta liberdade de sentir, Artur começou seu diálogo com uma pergunta:
- Tem certeza de que é isso que você quer?
Sem pensar duas vezes, respondi com a maior tranquilidade do mundo, tranquilidade que só ele conseguia me dar sem o medo de haver um julgamento:
- É isso que eu quero.
Achei que Artur me faria mudar de ideia, dizer que o que eu queria era um tanto absurdo e que não queria me ver quebrar a cara de novo, fazendo dessa ultima revelação mais um fato que uma probabilidade, mas ele era diferente de todos os outros, por vez, me disse:
- Olha, meu anjo, eu não quero que você sofra de novo, não quero isso nunca, mas se é da sua vontade tamanho desejo, eu traria pra você, buscaria até estar bem diante das tuas mãos e faria isso por você.
Eu sabia que não eram palavras soltas, por mim ele fez muito e faria muito mais, mas era a minha luta, a minha determinação o que diria se era merecimento meu ou não. E dizendo a ele isso, eu sei que entendeu e ainda assim ele me disse:
- Você tem razão, ninguém vai trazer ele pronto pra você, na sua mão. E todas essas guerras que terá que travar, você vai ver que elas valerão muito mais o objeto do que se tivesse sido entregue em mãos. À você, eu só desejo boa sorte. Mas o que te detem é medo?
De repente, me dei conta de que meu medo não era em relação as minhas vontades, mas das armas não serem o suficiente para durar uma batalha inteira, ou se durar, não chegar a grande guerra.
Contemplando-se de qualquer coisa como sabedoria, ele me fez sentir grande de novo, me colocou em um lugar que eu não sei se me pertence, mas que assumi com certa grandeza e atitude:
- Eu não duvidaria das tuas armas, elas são tão poderosas quanto você e não tenho duvidas que sabe disso, se o seu medo era esse, ele acabou aqui e agora, as tuas armas são grandes, um tanto maior quanto das outras pessoas a sua volta, quem vai decidir a proporção na qual elas serão usadas é você.
Não me coube mais do que comportar todas informações e agradecer a esse menino grande que me ensinou a correr atrás de todas elas e a manuseá-las. E me tomou pela cintura me pondo a sua frente, me olhou na curva da verdade dos meus olhos e reafirmou em outras poucas palavras o que me havia dito, mas de uma maneira nova, de uma maneira que me contemplou como rainha, anjo, divindade, não sei, aquela criatura estranha que eu reconhecia nele, mas não sabia identificar.

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