sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Resolvi tirar meus documentos hoje, alguns que perdi e outros que faltavam, chegando no lugar vi que tinha uma pequena fila e não tive muita paciencia pra esperar, mesmo assim, eu sentei na cadeira azul um pouco dura por conta da posição, bati meu pé num movimento involuntário e resolvi esperar. Ao meu lado não pude deixar de notar que tinha uma senhora dos cabelos brancos e olhos azuis, muito bem vestida, não que tivesse dinheiro, apenas se cuidava, devia ter sido muito vaidosa quando mais nova, alguns hábitos nunca se perdem, disso eu sabia. Em frente a ela havia uma moça mais nova, não tem bem cuidada e nem tão nova assim, daquelas pessoas que aparentam mais idade do que possuem, mais impaciente do que eu. Elas conversavam, eram mãe e filha. Percebi que a senhora muito me olhava e apesar de toda minha ansiedade e não gostar muito de ser observada, dirigi à ela algo como 'boa tarde', ela me sorriu e retribuiu com educação. Começou a conversar comigo sobre sua vida, o que fazia ali, disse seu nome, me mostrou fotos de quando era mais nova. Seu nome eu não lembro, estava ali porque estava se divorciando do marido após não-lembro-quantos-anos de casamento, mas eram muitos, e precisava mudar o nome no documento de identificação para poder movimentar coisas simples como conta bancária, tinha uma neta que fazia aniversário na semana seguinte (ou teria sido na passada?) e minhas suspeitas eram reais, ela era linda quando mais nova, uma foto em preto e branco, mas notavel seus olhos azuis e sua pele clara, ela era linda mesmo e imaginei que deveria ter muitos admiradores, apesar de não ter dito nada. De repente, percebi que havia em mim interesse, um sorriso, uma outra reação totalmente diferente daquele pé que batia impacientemente no chão, aliás, a batida agora pertencia a filha dela cada vez mais impaciente e olhando pra gente como se a mãe estivesse errada por contar e eu errada por ouvir. Não demorou muito, logo era a vez dela a ser atendida, depois seria a minha vez. Também não tardou. Lembro delas saindo e a senhora se despedindo de longe, respondi, peguei o que precisava e voltei pra casa. Voltei com a sensação de que tinha sido um bom dia, não sei, gosto tanto de conversar com as pessoas mesmo as que não conheço e que elas me convençam de que tem existe algo que vale a pena, deixem sua marca, sua história, pessoas que tem assuntos relevantes mesmo que só pra elas mesmas, dividam esse mundo, entende? Algo que vá além do tempo, último capitulo de novela ou silêncio. E melhor que isso é contar o meu dia ao inves do que sinto, porque por hoje não sinto dores e a existência dos outros não me incomoda.

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