terça-feira, 19 de outubro de 2010

“Meu cansaço me espanta,
estou plantado por meus pés,
não tenho quem encontrar,
E a velha rua vazia está
muito morta para sonhar.”

Bob Dylan – Mr. Tambourine Man

Se me perguntarem o que escrevo, direi que peço socorro, ajuda, carinho... O que me abrigar na hora. O primeiro (res)sentimento. Daí talvez acredite qual parte de mim você ocupa, senão eu mesma.

Olha, dois meses, ou até mesmo um, é muito tempo. Te digo isso, porque por mim, eu esperaria o tempo necessário, mas por mim (também), sinto que não tenho esse tempo. Que é outro. Um tanto confuso, sei. As coisas bonitas já não acontecem, tenho medo de não terem acontecido em lugar algum senão na minha cabeça, dentro de mim. Te escrevo não para isso, mas porque o tempo de espera é longo, enquanto passa vou me distraindo ao que estiver o meu alcance, talvez seja esse o problema: o que está realmente ao meu alcance? Poderia te dizer que ando mais introspectiva, que ando tomando conta do de dentro primeiro, seria mais bonito, mais poético, mas seria também inverdade – gosto da palavra inverdade, dá aquela boba sensação de que não é verdade agora, mas talvez num futuro seja, ao contrário de mentira, sempre condenada a ser mentira – tenho fugido de pessoas, evitado mesmo, ainda que não possível, eu me distraio com devaneios involuntários, antes eu me esforçava para que da boca delas saísse som e desse som, eu pudesse pescar palavras e encaixa-las para que fizessem algum sentido. Já não fazem. E é demasiado o esforço. Geralmente –e tem sido corriqueiro- não vale a pena. Mas o sentimento continua o mesmo. Prefiro acreditar que. Poderia te contar dos meus dias, mas não há nada de muito interessante e acredito que ao fazê-lo, te preocuparia ou confundiria ainda mais, mais do que qualquer outra coisa, por isso, apelo para a arte. O desencontro também pode ser muito bonito, não é mesmo? Penso que o desencontro não deixa de ser outra coisa a não ser arte. Assisti a um filme que me lembrou você, a gente, estava mais pra um ponto de vista meu mesmo. Se chama “Os famosos e os duendes da morte”, mais perturbador do que o título é o próprio filme. É brasileiro. Acho que o primeiro filme de Esmir Filho, não sei. Os atores são gaúchos e você sabe (?) o fascínio que tenho por sotaques. Me encontro da mesma forma de quando terminei de vê-lo, perturbada, desequilibrada emocionalmente, mas sutilmente poética. E é de um impacto apavorante, terrível, desesperador, intenso, mas não deixa de ser bonito, ao contrário. “Estar perto não é físico, e estar longe não é definitivo”, literalmente. Acredito que você vá gostar, as músicas são de Bob Dylan, também acho que curte. É de uma identificação agonizante. De qualquer maneira, tento te mandar.
A quantas andas tudo por aí? Não entendo muito bem dessa tua relação com T. mas acho que nem você mesmo entende, não é mesmo? Um tanto confuso, mas espero que esteja bem.


Te mando uma energia que não tenho e te amo,

Ana C.

P.S1: Desculpa o desânimo, a tristeza, a agonia.
P.S2: Mas com você não consigo deixar de ser sincera.

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