domingo, 23 de maio de 2010

Catavento

Você foi embora. A constatação do fato me dói mais do que o fato de você ter partido. Existem dias em que sua ausência me faz sentir uma tristeza tão grande que fica refletida dias nos meus olhos castanhos até o franzir da minha sobrancelha ao indicar controle, como se fosse possível ou verdade, fecho meus olhos na tentativa de recriar alguma coisa sua que tenha deixado pra trás antes de partir e no início, é dificil em meio a tanto trânsito, barulho de carros, tanta gente e tentativa de equilibrio dentro do ônibus, mas sua voz me invade quando me vejo deitada em seu sofá e na musicalidade da sua voz é onde quero ficar presa, depois me faz abrir os olhos e te vejo parado me olhando como se não tivesse outra pessoa mais bonita, como se nada a volta existisse, aquele mesmo olhar da primeira vez que te vi, um olhar que mistura vontade, admiração e qualquer coisa como um sorriso irônico de quem sabe exatamente a mensagem que está sendo passada e acha graça de si mesmo, não me lembro da minha reação, mas acredito ter correspondido pela maneira como tornou a me olhar por mais muitas vezes. Me desequilibrei dentro do ônibus, fui obrigada a interromper tão bruscamente a imagem com a mesma força que o motorista pisou naquele freio. Se tivesse caído, eu não teria me importado também, tanto faz. Nenhuma outra menção a você me ocorreu no momento, também não fiz muito esforço, a volta para casa seria longa, mais do que em qualquer outro dia, era preciso estar atenta ao caminho, à musica na rádio, ao equilibrio do lado de fora quanto do lado de dentro, era preciso muito em meio a tão pouco, mas ainda assim, se fazia preciso...
Os teus ventos nunca mais bateram à minha janela, o seu sorriso é quase um esforço da memória, sua imagem me hipnotiza, mas foram as palavras que eu não tive tempo de dizer que me marcam, não tenho mais o tempo que passou apesar de ter todo tempo do mundo, o nosso tempo foi outro, talvez não volte. E tenho medo.

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